O projeto de Carlos D’Apolito é um delicado equilíbrio entre o gigante e o minúsculo. Para reconstruir o panorama do bioma amazônico na última era glacial, o biólogo cruza dados de fósseis dos grandes mamíferos do período com grãos de pólen, também fossilizados. É uma abordagem interdisciplinar valiosa que tem o potencial de lançar luz sobre a história ambiental da Amazônia e como essa região pode ter respondido às mudanças climáticas no passado. Biólogo pela pela Universidade Federal da Grande Dourados, D’Apolito também é mestre em botânica pelo Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas, além de doutor em geociências pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido.
Com uma trajetória que atravessa várias regiões do Brasil, desde a infância o cientista transita entre o gigantesco e o minúsculo. Duas lembranças muito nítidas revelam essa tendência: vender mel na feira, quando adolescente, e o filme Jurassic Park, quando criança. Dois passos iniciais na aventura que o biólogo hoje empreende: as abelhas e os dinossauros do passado agora são os fósseis da megafauna amazônica e os fósseis de pólen nos sedimentos do solo. D’Apolito gosta de passar as horas vagas em áreas verdes. Também pratica a jardinagem para relaxar e sempre encontra um tempo livre para suas gatas.
O objetivo deste projeto é contar as histórias dos ribeirinhos, indígenas e outros atores locais que foram essenciais na coleta de fósseis e descoberta de novos sítios no sudoeste amazônico, entendendo como eles percebem esses achados. Apesar de sua importância, suas histórias e conhecimentos são pouco conhecidos e raramente mencionados em publicações científicas. Em 2024, o CNPq e o CONFAP receberão propostas para expedições científicas na Amazônia, exigindo a inclusão de atores locais com conhecimento tradicional. A pergunta central do projeto é: Quem são e o que pensam os invisíveis da paleontologia no sudoeste amazônico?
Confira a primeira reportagem da série.
O sul da Amazônia já pode ter sido tomado por florestas secas, como as do cerrado, milhares de anos atrás. Neste projeto, tentaremos provar ou rejeitar esta hipótese estudando fósseis acumulados na região sudoeste do bioma. Durante a última glaciação, de 115 a 11 mil anos atrás, o clima foi mais frio e eventualmente seco em diversas partes da América do Sul. Estes climas podem ter trazido florestas secas até o sul da Amazônia, onde fósseis de grandes mamíferos como mastodontes, toxodontes e preguiças-gigantes são encontrados. Em que tipo de ambiente estes animais viviam? Moléculas de carbono preservadas em ossos e dentes têm relação com os tipos de plantas consumidas por estes grandes mamíferos. Além disso, grãos de pólen fósseis preservados em sedimentos podem ser identificados e associados a diferentes tipos de vegetação. Ao unir estas abordagens, tentaremos reconstruir as paisagens no sudoeste amazônico na última era do gelo, averiguando assim a resiliência da floresta a câmbios climáticos do passado.
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