Fenômenos estranhos do micromundo reverberam em nós, diz a biologia quântica
Por Clarice Cudischevitch
É comum a física quântica ser descrita como “contraintuitiva”. E não é para menos: afinal, uma teoria que fala de átomos que atravessam “paredes” como fantasmas, partículas distantes entre si que se comunicam como que por telepatia, e elementos que existem em mais de um lugar ao mesmo tempo, indo de encontro às leis da física clássica que conhecemos, soa no mínimo estranha. Boa parte dos cientistas considera, contudo, que suas esquisitices se restringem ao mundo microscópico – aquele dos átomos, elétrons e prótons –, mas que elas não afetariam o mundo visível das coisas grandes e vivas. Não é o que diz, entretanto, uma área relativamente nova na ciência: a biologia quântica.
Aqui cabe uma ressalva: quando falamos de átomos atravessando “paredes” (mais precisamente, o fenômeno conhecido como efeito túnel), partículas que se comunicam por “telepatia” (emaranhamento quântico) e objetos capazes de desempenhar mais de um estado ao mesmo tempo (superposição), isso nada tem a ver com fenômenos sobrenaturais. De fato, o termo “quântico” caiu nas graças dos místicos, mas práticas como “terapia quântica” e “dieta quântica” não são científicas e não têm relação alguma com a física quântica de verdade.
Pois bem. O que os “biólogos quânticos” (na verdade ainda nem há uma forma oficial de chamar os estudiosos da área) acreditam é que os fenômenos que acontecem no micromundo e são descritos pela física quântica têm, sim, consequências no mundo macroscópico, regido pelas leis da física clássica newtoniana. Mais especificamente, eles teriam consequências no mundo vivo. Deixariam nele uma “assinatura quântica”.
O leitor pode questionar: mas isso não é óbvio? Se somos todos compostos de átomos, é de se esperar que o que acontece no mundo microscópico tenha impacto no mundo que conseguimos ver. Afinal de contas, “a biologia é como se fosse uma química aplicada, e a química é como se fosse uma física aplicada, então não seria tudo física quando você chega nos fundamentos das coisas?”, questionam retoricamente o professor de genética molecular Johnjoe McFadden e o físico teórico Jim Al-Khalili no livro “Life on the Edge: The Coming of Age of Quantum Biology” [A vida na fronteira: a chegada da era da biologia quântica], de 2014.
E é verdade. Se a biologia envolve, em última instância, a interação entre átomos, então as regras do mundo quântico devem, de fato, operar nas menores escalas dos organismos vivos, afirmam os autores. Mas o que a ciência diz até então é que estas regras operam apenas nestas escalas, porém não geram efeitos relevantes no mundo que enxergamos. Nós não atravessamos paredes nem podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo, ainda que as partículas dentro de nós sejam capazes disso. Por que há essa fronteira entre o universo visível e o universo que sabemos que existe nas menores escalas?
Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S.Paulo.
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