20/03/2023 10:30

Instituto Mancala faz capacitação para cientistas negros e indígenas

  • Diversidade na ciência

Programa de aperfeiçoamento busca aplicar em comunidades locais soluções para problemas ligados à fome e à insegurança alimentar

Atento à falta de diversidade nos ambientes de pesquisa e desenvolvimento do país, o Instituto Serrapilheira apoia a segunda edição do projeto Mukengi (lê-se: muquêngui), um programa de aperfeiçoamento para pesquisadores negros e indígenas com o objetivo de capacitá-los a realizar estudos direcionados às suas comunidades. Criado pelo Instituto Mancala, o programa vai selecionar 30 candidatos para aulas teóricas e atividades de pesquisa aplicada em cima do tema: fome e insegurança alimentar

“É fundamental aproximar a ciência do combate à fome, pois, aliada a políticas públicas adequadas, ela pode ajudar a trazer soluções a médio e longo prazos”, afirma Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Instituto Serrapilheira. “Só assim conseguimos evitar situações como a grave crise sanitária e humanitária que aflige o povo Yanomami atualmente. O projeto do Instituto Mancala é importante para que tenhamos mais cientistas negros e indígenas trabalhando em prol de suas comunidades.”

Para se candidatar a uma vaga no curso, é preciso estar cursando ou ter cursado mestrado e/ou doutorado nas áreas de exatas, ciências da vida ou saúde. Os interessados devem apresentar o diploma de formação e o Currículo Lattes atualizado, ser negro(a) ou indígena e ter interesse em trabalhar com o tema proposto. As inscrições ficarão abertas de 20 de março a 12 de abril. Clique aqui para acessar o formulário de inscrição.

A partir da capacitação, os cientistas vão propor soluções para a grave crise alimentar que o país enfrenta, especialmente em comunidades mais vulneráveis, como quilombolas, periféricas e indígenas. Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), levantados em 2022, mostram que, atualmente, mais da metade (58,7%) da população brasileira está em situação de insegurança alimentar leve, moderada ou grave.

“A insegurança alimentar é um assunto de grande debate público no Brasil. Nós sabemos que as comunidades indígenas e racialmente marginalizadas são as que mais sofrem sem saber se vão comer ou o que comerão na próxima refeição. Diante de todo esse cenário é urgente que cientistas negros, negras e indígenas assumam o protagonismo na criação de soluções tecnológicas para o combate a fome”, ressalta Rosani Matoso, fundadora e diretora-presidente do Instituto Mancala.

Duas etapas

O programa é dividido em um ciclo de capacitação inicial, com três meses de duração; e um ciclo de atividade prática de extensão acadêmica, que vai durar seis meses. 

A primeira etapa, que terá início em 6 de maio, incluirá aulas teóricas virtuais, ministradas por pesquisadores negros e indígenas que já tenham suas carreiras consolidadas na área de Ciência e Tecnologia (C&T). Os encontros aos sábados abordarão disciplinas como planejamento de projeto, divulgação científica, história da ciência africana e indígena e extensão acadêmica. 

Na segunda etapa, a partir de julho, os cientistas vão pensar soluções para os problemas da fome e da insegurança alimentar em suas comunidades, de forma interdisciplinarem colaboração uns com os outros, com as comunidades-alvos e com o Instituto Mancala.

“A motivação da atividade prática é mostrar que as áreas de C&T podem e devem dialogar com o público-alvo da sua produção, especialmente se os(as) pesquisadores(as) são oriundos das comunidades beneficiadas. Esperamos que cada participante possa entender o valor conjunto do seu conhecimento e da sua experiência de vida na construção de uma sociedade mais igualitária”, explica Igor Miranda, um dos fundadores do Instituto Mancala, que vai mediar a roda de conversa com o tema “Igualdade Racial através de Ciência e Tecnologia” durante a capacitação.

Treinamento de mídia

A Agência Bori é uma das parceiras nesta edição e incluirá o módulo de comunicação com a imprensa com aulas teóricas sobre o funcionamento da imprensa e do jornalista, os caminhos para divulgar pesquisas na imprensa, e dinâmicas práticas que incentivem o pesquisador a identificar estudos com potencial jornalístico de divulgação e a conduzir de forma estratégica entrevistas para jornalistas de diferentes veículos de comunicação, como rádio e televisão.

A ideia da parceria é treinar todos os participantes do Mukengi a se comunicarem com a imprensa de forma estratégica.

Clique aqui para acessar o formulário de inscrição.

  • Temas
  • Fome
  • insegurança alimentar
  • Instituto Mancala
  • Mukengi