Clarice Cudischevitch
Assim como os seres humanos, as plantas têm um relógio biológico que lhes permite identificar as horas do dia e realizar a fotossíntese. Agora, um estudo avançou no conhecimento de como funciona esse mecanismo. O trabalho foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com as Universidades de Bristol e de Cambridge, no Reino Unido.
Coautor do estudo, o biólogo Carlos Hotta (Instituto de Química da USP), cujo projeto é apoiado pelo Instituto Serrapilheira, explica que já se conhecia o papel de fatores como a luz e a temperatura na capacidade das plantas de medir a passagem do tempo. A pesquisa conseguiu identificar o processo de atuação de um dos fatores já conhecidos: o açúcar.
“Já sabíamos que o açúcar produzido na fotossíntese ajuda a regular o relógio da planta. Agora descobrimos o mecanismo pelo qual ele faz essa regulação”, conta Hotta.
Os pesquisadores encontraram plantas mutantes que tinham problemas na via de sinalização de açúcar, bastante associada ao estresse energético.
Além disso, analisaram plantas transgênicas, com alterações na via de sinalização. Observaram, então, que o açúcar parava de regular o relógio biológico nessas variedades de plantas.
“Isso significa que a gente conseguiu conectar duas vias diferentes: uma que indica para a planta quando ela está em estresse energético e outra que permite à planta saber a hora do dia pelo relógio biológico. Essa conexão a gente não conhecia antes”, destaca.
Hotta explica que compreender melhor como a planta percebe as horas do dia e o que influencia essa percepção contribui para entender como ela se adapta ao ritmo de um ambiente. Para o estudo, os cientistas utilizaram a Arabidopsis, planta modelo da família da mostarda que equivale ao camundongo, na área da Ecologia.
No projeto apoiado pelo Serrapilheira, especificamente, ele estuda diversos tipos de cana-de-açúcar para entender se relógios biológicos mais “pontuais” estariam associados a um crescimento mais intenso das plantas. No estudo recém-publicado, Hotta ressalta que a parceria foi essencial.
“Tanto os autores correspondentes do Reino Unido quanto o Michel Vincentz, da Unicamp, tiveram um papel crucial.”
O artigo foi publicado em agosto na revista Current Biology. Clique aqui para conferir.
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