Foto: Reprodução/ David Lapola

Clarice Cudischevitch

A perspectiva de savanização da Amazônia por conta das mudanças climáticas pode levar a danos socioeconômicos com custos estimados entre 957 bilhões a 3,6 trilhões de dólares, mostra artigo de revisão. No estudo, que faz um apanhado da literatura recente no assunto e foi publicado na revista científica PNAS (em inglês), os pesquisadores concluíram que esses números podem se confirmar caso não seja tomada nenhuma medida para evitar o problema.

O artigo foi liderado pelo ecólogo da Unicamp David Lapola e teve a participação do cientista ambiental Bernardo Strassburg, ambos grantees do Serrapilheira. A projeção dos pesquisadores é que os danos socioeconômicos aconteçam 30 anos após a savanização. Por outro lado, o custo estimado de ações preventivas seria substancialmente menor: entre 64,2 bilhões (no caso de medidas de mitigação) e 122 bilhões de dólares (para medidas de adaptação).

Os cientistas chegaram aos valores citados a partir da análise de impactos de secas anteriores que já ocorreram na região em 2005, 2010 e 2016. “Esses dados estavam reportados para diferentes setores de maneira separada e esparsa”, comenta Lapola. “O que a gente fez foi juntar, de maneira sistematizada, as estimativas de diferentes setores socioeconômicos e extrapolar para o longo prazo – 30 anos -, caso a savanização ocorra.”

Uma das torres instaladas em diversas regiões da Amazônia pelo projeto de David Lapola, com o objetivo de monitorar o efeito da concentração de CO2 na floresta. Reprodução/ David Lapola

A savanização da Amazônia é uma hipótese que prevê que mudanças climáticas extremas poderiam causar uma perda catastrófica de biomassa e estrutura de sua floresta. “Perde-se as condições climáticas necessárias para sustentar uma floresta tropical chuvosa como a Amazônia e, no lugar, se tem um clima típico de savana (ou Cerrado)”, explica o ecólogo.

Um exemplo dos impactos socioeconômicos que podem ser causados pela savanização é a perda da produtividade agrícola como consequência da redução da floresta. Outra possibilidade é a diminuição dos estoques pesqueiros por conta das secas extremas, que também estão ligadas à perda da floresta, além do aumento da incidência de doenças transmitidas por vetores.

Os autores observam que, enquanto a efetividade das medidas de mitigação para evitar a savanização da Amazônia – o que inclui a redução do desmatamento – permanece incerta, as ações de adaptação propostas no estudo seriam benéficas mesmo no caso de este fenômeno nunca ocorrer. Isso porque são medidas que contribuem para a preservação do meio ambiente – por exemplo, evitar o uso de fogo na agricultura ou incentivar a economia de energia.

Apesar de a hipótese de savanização da Amazônia estar completando 20 anos em 2019, este é o primeiro estudo que faz uma avaliação a fundo dos impactos socioeconômicos que ela teria para a região. De acordo com Lapola, tomar alguma atitude agora em relação a essa hipótese é essencial. “Agir nesse momento é, no mínimo, mais barato do que não se fazer nada e ter que lidar com os possíveis impactos daqui a algumas décadas.”