Clarice Cudischevitch
O motor da ciência não é o conhecimento, e sim a falta dele. É o que defende o neurocientista Stuart Firestein, autor do livro “Ignorância – como ela impulsiona a ciência”. A versão em português, publicada recentemente pela Companhia das Letras, inaugura a parceria entre a editora e o Serrapilheira para obras de divulgação científica.
O livro é baseado em uma disciplina ministrada por Firestein na Universidade Columbia, nos Estados Unidos. O curso, chamado “Ignorância”, consiste em receber diversos cientistas durante o semestre para abordar suas áreas a partir de um ângulo geralmente pouco explorado: eles devem falar sobre tudo que não se sabe em seus respectivos campos.
Para o autor, não apenas é a ignorância que move a ciência em vez do conhecimento: a ignorância também advém do conhecimento. Cada resposta a que se chega na pesquisa levanta novas perguntas, demonstrando, na verdade, que a ciência é um universo tomado por incertezas. Ele compara a atividade científica a procurar um gato preto em um quarto escuro – um feito difícil, “especialmente quando não há nenhum gato”, afirma um antigo provérbio.
Em plena era da informação, sua teoria pode parecer ousada. Apenas em 2002, quando a internet ainda não havia alcançado o potencial de hoje, foram acrescentados cinco exabytes de conteúdo aos acervos mundiais, o que corresponde a 1 quintilhão de bits de dados. Segundo o autor, é o bastante para encher a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos 37 mil vezes.
“A ciência trafega na ignorância, a cultiva e é impulsionada por ela. Ficar flanando no desconhecido é uma aventura; fazer isso como meio de vida é algo que a maioria dos cientistas considera um privilégio”, destaca Firestein. Para o Serrapilheira, as incertezas e os riscos são inerentes a uma ciência com potencial para grandes transformações. O instituto apoia a chamada night science – aquela que é como “um gato preto no quarto escuro” e que ainda está entre a intuição e os dados. Clique aqui para saber mais.
“O que transcende aquilo que sabemos geralmente não surge em perfeita oposição àquilo que sabemos, mas surge em alguma angulação, e se manifesta de maneira implacável”, afirma o cientista da computação Daniel Leite, grantee do Serrapilheira. Seu projeto, que busca maior autonomia e flexibilidade da inteligência artificial, retrata um exemplo de night science. Confira um artigo de opinião de Daniel Leite sobre a manifestação da incerteza na ciência.
No livro, Firestein também põe em xeque a ideia do fato científico como a “unidade respeitada e preferencial do conhecimento” por supostamente ter sido objeto de observações e medições sem vieses e ter se livrado de dúvidas. Ele diz que não importa quão objetivo seja o processo de descoberta, “alguém ainda terá de decidir fazer aquela medição, criando ampla oportunidade para o viés entrar no esquema bem aí”.
No entanto, fatos bem estabelecidos tendem a se tornar inquestionáveis, e o autor cita um exemplo curioso. Até poucos anos atrás, era convencionado na Neurociência que o cérebro humano é composto de cerca de 100 bilhões de neurônios – quantidade ensinada por professores do mundo todo, incluindo o próprio Firestein. Em 2009, a pesquisadora brasileira Suzana Herculano-Houzel foi em busca da origem deste número. Os especialistas da área respondiam que era o que constava em todos os livros didáticos, mas ninguém sabia ao certo quem fez a afirmação inicial.
O grupo da brasileira, então, desenvolveu um método para contagem de células e descobriu que o cérebro humano, na verdade, tem em média 80 bilhões de neurônios – 20% a menos do que se imaginava. “O número foi tido como verdadeiro por causa da repetição, não como resultado de algum experimento”, aponta Firestein, demonstrando a fragilidade do que conhecemos como “fato científico”.
O livro “Ignorância – como ela impulsiona a ciência” pode ser encontrado em livrarias de todo o Brasil e em lojas virtuais.
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