A comunidade científica brasileira vem demonstrando um engajamento admirável na busca por soluções para a pandemia de Covid-19. Instituições de apoio à pesquisa adaptaram seus programas para contemplar iniciativas que surgem diariamente em todo o país. No quarto webinar do Serrapilheira, conversamos com representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (FAPESP) e Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) para conhecer suas estratégias de financiamento no combate ao novo coronavírus. Confira os destaques.
FAPESP
O diretor científico da FAPESP, Luiz Mello, informou que a agência lançou dois editais que somam R$ 30 milhões para apoio a projetos de combate à Covid-19. O primeiro, já encerrado, direcionou até o momento R$ 6 milhões ao apoio de pequenas empresas para pesquisa em inovação e selecionou seis projetos.
A segunda chamada, de R$ 10 milhões, recebe submissões até 22 de junho, mas as propostas são analisadas e aprovadas à medida que chegam. Até o momento, há 31 projetos em execução, que incluem uma varredura em uma biblioteca de mais de 4 mil antivirais, a avaliação do efeito da heparina em pacientes, pesquisas relacionadas a testes rápidos, entre outras. Propostas de divulgação científica também são bem-vindas.
“O restante do valor é o que ainda temos disponível para o financiamento”, disse Mello. “Agora vamos avaliar onde alocar esses recursos para buscar respostas rápidas para a sociedade.”
IDOR
O IDOR voltou seus esforços para uma abordagem interdisciplinar em torno da pandemia, abrangendo análises de grandes bases de dados, diagnóstico, testagem de novas drogas e comunicação cientifica. “Engajamos pesquisadores para que os projetos fossem desenhados com agilidade”, comentou a presidente do instituto, Fernanda Moll. “Buscamos dar respostas que vão desde a biologia do vírus, a imunização, até o desenho de ensaios clínicos para novas terapias, além da saúde mental.”
Um dos focos do IDOR são parcerias diversas com entidades públicas e privadas, como empresas de tecnologia, para testagem com georreferenciamento, e hospitais, para se construir bases de dados unificadas. “Buscamos enfrentar de maneira conjunta o que se passa no Brasil e no mundo.”
MCTIC
O Ministério vem atuando como um articulador de ações relativas à pandemia em todo o país e instituiu a Rede Vírus, voltada para a tomada de decisões em áreas prioritárias no enfrentamento ao novo coronavírus. Para isso, foi feito o descontingenciamento de R$ 100 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). R$ 30 milhões foram somados a R$ 20 milhões do Ministério da Saúde e destinados a uma chamada pública, encerrada nesta semana, que recebeu 2.203 propostas.
“Também contratamos diretamente projetos de pesquisa em rede no valor total de 60 milhões de reais (vacinas, ensaios clínicos, inovações em diagnóstico, em medicamentos, respiradores e EPIs), explicou o secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do MCTIC, Marcelo Morales. “Investimos, ainda, no monitoramento do vírus por meio do seu sequenciamento em todo território nacional.” O Ministério também articula ações público-privadas para buscar respostas para o problema. Há, ainda, uma linha de apoio para pesquisas em ciências humanas e sociais que buscam entender os impactos da Covid-19 sob essa ótica.
Serrapilheira
Procurando reagir de forma rápida ao panorama atual, o Serrapilheira buscou ativamente iniciativas com forte potencial e baixo risco. Direcionou recursos de uso flexível ao apoio de projetos que buscam responder a três perguntas fundamentais e deverão, assim, embasar medidas eficazes de diagnóstico, tratamento e erradicação da epidemia:
1) Qual é o número real de infectados por Covid-19? – Quem conduz o estudo é o epidemiologista e reitor da UFPel, Pedro Hallal;
2) Como se dá a resposta imune de brasileiros ao novo coronavírus? – o responsável é o virologista da UFRJ Amílcar Tanuri;
3) Como prever a dispersão da epidemia a partir de modelos matemáticos? – o projeto é liderado pelo matemático Tiago Pereira da Silva, da USP-São Carlos.
Já no campo da divulgação científica, o Serrapilheira apoia financeiramente o trabalho do biólogo Atila Iamarino, que se tornou uma das principais referências na disseminação de informações sobre o coronavírus. Diariamente Atila produz conteúdos sobre a pandemia para seu canal do Youtube, redes sociais e coluna na Folha de S.Paulo.
Colhendo os frutos do passado
É importante lembrarmos que a capacidade que a ciência tem de reagir neste momento é fruto dos investimentos que recebeu no passado. Ela precisa se construir ao longo do tempo, e sua dinâmica é naturalmente mais longa. Apesar de tentarmos catalisá-lo ao máximo, o processo científico requer paciência – não conseguimos produzir uma vacina em três semanas, por exemplo.
Esta crise nos mostra que o investimento continuado na ciência, público e privado, é absolutamente essencial para fortalecer nossas respostas a eventos como esse. Destaco aqui que ciência e medicina têm objetivos que se complementam: enquanto a primeira foca em gerar conhecimento, a medicina busca a cura – o que, nos últimos séculos, muitas vezes só foi possível por conta do conhecimento prévio gerado. Nesta pandemia, ciência e medicina trabalham juntas para salvar vidas.
O webinar foi mediado pela diretora de Ciência do Serrapilheira, Cristina Caldas. Você pode assistir à gravação completa aqui.
Este é o quarto webinar dentro da temática da pandemia do novo coronavírus organizado pelo Serrapilheira. Se você perdeu os primeiros, pode assistir às gravações em nossa playlist no Youtube.
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