04/05/2020 03:13

A probabilidade não é um monstro

  • Blog Ciência Fundamental

Nossa intuição é notoriamente falha em avaliações que envolvem incertezas. Por quê?

Ilustração: Julia Debasse

Por Gabriela Cybis

O apresentador de programa de auditório lhe mostra três portas fechadas. Atrás de uma delas está o carro esportivo de seus sonhos. Atrás de cada uma das outras duas, um monstro. Você escolhe uma. “Tem certeza?”, pergunta o apresentador. Ele vai dar uma dica. Abre uma das duas portas que você não escolheu e surge um monstro. “Agora restam só duas portas”, ele diz. “Você fica com sua escolha ou quer trocar?” E agora, o que fazer? Faz diferença em termos de probabilidades?

Essa charada, conhecida como problema de Monty Hall em honra ao apresentador americano homônimo, foi publicada num jornal dominical americano em 1990, gerando comoção. Mais de 10 mil leitores escreveram para a revista questionando a solução apresentada, um número impressionante considerando o (des)interesse do grande público por problemas matemáticos. Até o famoso matemático Paul Erdös não se convenceu da resposta, mesmo diante da clara demonstração que a prova. A charada ilustra como nossa intuição pode nos levar a convicções falsas, sobretudo em questões relacionadas a probabilidades.

Seres humanos são notoriamente falhos em avaliações que envolvem incertezas. Por exemplo: quem são mais perigosos, mosquitos ou tubarões? Picadas de mosquitos são responsáveis pela transmissão de doenças a milhões de pessoas, das quais morrem mundialmente cerca de 700 mil por ano. Em contrapartida, no mesmo espaço de tempo os tubarões são responsáveis por em torno de dez mortes. Logo, mosquitos são mais perigosos que tubarões, mas seguimos temendo muito mais esses predadores.

Isso faz sentido do ponto de vista evolutivo: quando há risco de tubarões na água, é saudável ter medo. Enquanto essa forte resposta intuitiva nos serviu muito bem em um passado mais selvagem, hoje as condições de vida são mais complexas. Num mundo em que adoecemos lentamente por exposição a carcinógenos ou consumo excessivo de gordura, entre outros, esses simples instintos nem sempre nos servem de guia confiável. Muitas vezes carecemos de noções mais refinadas de risco.

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