18/06/2020 05:48

Água mole, pedra dura, tanto bate…

  • Blog Ciência Fundamental

Pode o clima acelerar os motores tectônicos da Terra?

Ilustração: Catarina Bessell

Por Pedro Val

Pergunte a qualquer geocientista: fixadas todas as variáveis, qual rio escava mais rápido seu leito rochoso – aquele nas montanhas tropicais bolivianas ou aquele outro nas montanhas semiáridas da Argentina? A resposta será praticamente unânime: os rios tropicais. Faça a mesma pergunta, só que numa sala de geocientistas que estudam a evolução das paisagens. O grupo vai se dividir. Acontece que essa questão, tão simples e de resposta intuitiva, é extensamente debatida entre pesquisadores da área.

A divergência não é à toa, uma vez que hoje existem mais de 3 mil medidas de taxas de escavação de terreno no mundo inteiro e uma única variável é capaz de explicar 40% delas: o declive do terreno. Andes, Himalaias, Alpes Suíços, quanto mais íngreme, maior a erosão, e não importa o volume da chuva. Os outros 60% se atribuem a relações complexas entre chuva, tamanho dos grãos nos rios, vegetação, estabilidade do solo, resistência da rocha no substrato, entre outros. Por serem complexas, nenhuma dessas variáveis consegue explicar a erosão de maneira tão robusta quanto o declive.

Três mil medidas. Chutando por baixo, toda essa pesquisa deve ter custado ao menos 1 milhão e meio de dólares. Bem aplicados, pois esse investimento é motivado por excelentes perguntas. Uma delas é identificar se um clima mais úmido, por meio de seu pressuposto controle nas taxas de escavação, seria capaz de erodir a superfície de montanhas mais rápido do que elas levantam pelas forças tectônicas. Essa rápida remoção reduziria a massa que sustenta as montanhas, ou seja, diminuiria a sua altura e a profundidade de suas raízes crustais. Com menos massa, é menor a resistência que essa crosta oferece à colisão com a placa tectônica do outro lado. Com menor resistência, a placa que mergulha de volta para o manto abaixo das montanhas o faz mais rápido e com mais facilidade, aumentando a velocidade de convergência entre as placas. É uma hipótese fascinante –o clima seria capaz de afetar o motor do nosso planeta. Um verdadeiro duelo de titãs.

Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S. Paulo.

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