No último webinar do 5º Encontros Serrapilheira, o pesquisador compartilhou com jovens cientistas orientações para encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal
Para o biólogo Fernando Maestre, o segredo para um laboratório produtivo pode ser resumido em uma palavra: felicidade. Em seus 15 anos de experiência como líder de grupo de pesquisa, ele percebeu que os melhores cientistas são aqueles que estão felizes, e que isso está diretamente relacionado a encontrar um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e profissional. No último webinar do 5º Encontros Serrapilheira, Maestre compartilhou com jovens pesquisadores dicas de como alcançar esse objetivo.
“Se você quer produzir uma ciência melhor, há formas de fazer isso que vão além de trabalhar por muitas horas, sob pressão e abrindo mão da vida pessoal”, afirmou o pesquisador da Universidade de Alicante, na Espanha. “Se trabalhamos sob estresse, não podemos ser criativos.”
Embora esse discurso possa soar pouco factível na prática, Maestre garante que é aplicável. “Eu fiz isso na minha carreira e, no final, funciona.” Ele reconhece, no entanto, que mudar a forma de enxergar o trabalho nem sempre é fácil e requer um autocuidado constante. Em meio à pandemia de Covid-19, ao distanciamento social e ao trabalho remoto, o pesquisador se viu voltando a velhos hábitos, como responder e-mails à noite e trabalhar em qualquer momento que tinha livre, e foi diagnosticado com ansiedade.
No artigo “Ten simple rules towards healthier research labs”, publicado na PLOS Computational Biology, Maestre elenca algumas dicas práticas para cientistas, principalmente líderes de grupos de pesquisa, encontrarem esse balanço e tornarem seus ambientes de trabalho mais saudáveis, ainda que num meio acadêmico extremamente competitivo. Já no webinar, cuja gravação pode ser assistida aqui, ele respondeu a perguntas dos participantes sobre o tema.
A seguir, elencamos um resumo com cinco dicas:
Promova o bem-estar da sua equipe
Sabemos que as pessoas são mais criativas e eficientes quando estão felizes. Esforce-se para oferecer as melhores condições para os membros do laboratório se sentirem bem fazendo ciência. Não há um caminho único para alcançar isso. Coloque-se no lugar dos outros, seja gentil, elimine qualquer forma de assédio e discriminação no laboratório, seja sensível com questões pessoais, de saúde e de família. Ouça sua equipe e faça-os perceber que você se importa com eles.
Crie um ambiente colaborativo
Estimular cooperação em vez de competição dentro dos laboratórios de pesquisa estimula a produtividade, criatividade e motivação da equipe. Além de promover aprendizado e desenvolvimento profissional, especialmente para aqueles em início de carreira, ações colaborativas preparam os pesquisadores para que eles, também, estabeleçam colaborações com colegas de outras instituições.
Trate os membros do laboratório como seus colegas
É comum encontrar laboratórios com hierarquias “top-down”. Isso promove relações tóxicas e limita a capacidade dos membros do laboratório de pensar criticamente. Os líderes de grupos de pesquisa devem definir as prioridades e ter a palavra final, mas tratar a equipe como meros executores das instruções e não como colegas que têm opiniões consideráveis sobre seus trabalhos é uma grande perda de oportunidade. Ouça o que todos eles têm a dizer, dos técnicos aos pós-docs.
Lembre-se: cada membro do laboratório é único
Não compare uma pessoa da equipe à outra, pois isso frequentemente resulta em aumento de estresse e ansiedade e reduz suas performances. Todas as pessoas são diferentes, e o papel de um líder de grupo de pesquisa é incentivar as habilidades de cada um e ajudá-los a desenvolver seus potenciais e ambições profissionais. Uma forma de fazer isso é direcionando a cada um os projetos que são mais apropriados a seus respectivos perfis.
Respeite as horas de trabalho, férias e feriados
O estresse associado a horas excessivas de trabalho sem que a pessoa tenha uma vida fora do laboratório é uma das maiores razões do aumento de problemas de saúde mental na academia, principalmente entre jovens pesquisadores. Não espere que os membros do seu laboratório trabalhem fora das horas previstas. Todos nós lidamos com prazos apertados que requerem momentos de muita dedicação, mas isso deve ser a exceção, não a regra.
Não estimule o estigma do fracasso e celebre o sucesso
Cientistas encaram constantemente a rejeição de artigos ou grants em qualquer estágio da carreira. Normalize essa rejeição como parte do trabalho. Fale abertamente sobre elas, mostrando-as como a regra e não a exceção, discuta com toda a equipe as possíveis razões para determinada rejeição e como evitá-la na próxima vez, divida suas próprias experiências. E, como o sucesso não é tão comum, ele deve ser celebrado quando acontecer.
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