Jornalista de ciência e apresentadora do podcast Ciência Suja, Thaís Manarini escreve sobre como tornar a ciência atrativa não só na ficção científica
Por Thaís Manarini
Há alguns anos, viajei para a Praia de Carneiros, em Pernambuco, com meu marido. Era nossa lua de mel, e reservamos uma dessas pousadas com bangalôs de frente para o mar. Não tinha muito agito por lá, então à noite a gente aproveitava para alugar alguns DVDs que o lugar oferecia – sim, era uma época pré-Netflix. Certa noite resolvemos saldar uma dívida antiga e assistir a um dos maiores clássicos da ficção científica: “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick. Resultado: eu não só dormi no meio, como acordei sem vontade de terminá-lo. E não terminei mesmo. Sério, odiei.
Como jornalista que cobre ciência (em especial na área da saúde), até me incomoda reconhecer isso em público. Porque existe um senso comum de que cientista e jornalista de ciência tem que gostar de ficção…científica. Mas eu não gosto: “Star Wars”, “Interestelar”, “A Origem”, “Matrix”… não amei nenhum, embora reconheça o valor deles. Então seria eu uma má jornalista de ciência?!
Modéstia às favas, de jeito nenhum. Também me divirto com a cultura da ciência, só não em filmes com lasers e gravidade zero. Recentemente assisti “Não Olhe Para Cima”, que questiona o negacionismo científico, e achei ótimo. Outra produção que adorei foi a série documental “Bebês em Foco”. Não dá para desgrudar o olho da TV vendo as pesquisas sobre os diferentes marcos do desenvolvimento infantil – ainda mais se você estiver esperando um filho, como era meu caso.
Também tem muita ciência a ser devorada no papel. Li nesses últimos tempos “Mengele: A História Completa do Anjo da Morte de Auschwitz”, que mostra como o dito maior cientista do nazismo, na verdade, mal entendia de metodologia científica. Já pra quem curte revista, um título que sempre me acompanhou é a “Superinteressante”.
Tudo isso para dizer que dá para se divertir com a ciência para além da ficção científica. Foi inclusive a partir dessa perspectiva que criei, junto com outros três jornalistas, o podcast Ciência Suja. É uma imersão jornalística em casos marcantes nos quais a ciência foi deturpada – a gente brinca que valoriza a ciência pela contramão.
Independente do tema, tentamos criar uma linha narrativa que entretivesse o ouvinte de algum jeito. No episódio sobre a falsa pílula do câncer da primeira temporada, revelamos como dois divulgadores científicos se conheceram em um evento pseudocientífico, e terminaram juntando os trapos. Ao abordar a eugenia, entrevistamos o neto do maior eugenista brasileiro. Na hora de desvendar as estratégias da indústria do tabaco, trouxemos as vozes de um coral composto só por pessoas que perderam as cordas vocais em função de um câncer associado ao cigarro. A gente precisava disso para trazer o bê-a-bá dessas histórias? Não, mas elas ficaram mais cativantes assim. No mais, a forma de fazer pesquisa em si – e a de identificar charlatões na área – também pode ser mais atraente.
Nada me tira da cabeça que esse olhar para a narrativa de cada episódio contribuiu para o nosso sucesso. Deu tão certo que acabamos de estrear a segunda temporada. O primeiro episódio, sobre uma pesquisa fraudulenta conduzida em Manaus durante a pandemia, bateu nosso recorde de audiência.
A ciência pode entreter o amante de esporte, o sujeito interessado em política, a mãe de primeira viagem, o noveleiro, o podcaster, o obcecado por true crime… e a turma da ficção científica – da qual meu marido faz parte. Para toda essa audiência, no entanto, devemos cobrar que o entretenimento venha acompanhado de rigor científico. Até porque o que não falta por aí é discurso picareta travestido de ciência. Na TV, no livro ou no áudio, esse não merece ibope.
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