Clarice Cudischevitch
A atividade científica não precisa ficar restrita às instituições de Ensino Superior. Foi para aproximar estudantes em fase escolar da ciência e despertar o interesse deles por carreiras na área que, em 2015, Kawoana Vianna criou o Cientista Beta. Apoiado pelo Camp Serrapilheira, ele leva a iniciação científica ao Ensino Médio e permite que alunos se tornem pesquisadores por meio do “Decola Beta”, um dos braços do projeto. As inscrições para a próxima edição começam no dia 1º de março.
“Queremos questionar, experimentar e transformar”, afirma a idealizadora do Cientista Beta em um minidocumentário recém-lançado que retrata a trajetória de três jovens ligados ao projeto de diferentes formas. Um deles é a própria Kawoana. Ela começou a fazer pesquisa aos 14 anos, na escola pública em que estudava em Novo Hamburgo (RS).
“Foi quando comecei a lidar com problemas que não eram os meus e vi que esse era o papel que eu queria ter na sociedade”, diz a jovem de 26 anos, hoje estudante de Medicina. No Ensino Médio, Kawoana fez curso técnico em Química. Adorava pesquisar e já tinha um perfil de líder. Em 2011, foi premiada em uma das maiores feiras de ciências do mundo, a Intel ISEF.
A vontade de lidar com problemas da sociedade por meio de alguma iniciativa de impacto levou Kawoana a desenvolver o “Cientista Beta”. A missão é aproximar os jovens da ciência tirando ideias do papel e mostrando que eles são capazes de desenvolverem seus próprios projetos científicos, independentemente da idade ou do contexto em que está inserido.
O objetivo não é propriamente formar profissionalmente cientistas, mas estimular nos jovens o interesse pela área. “Ser cientista é ser curioso. Se a pessoa é questionadora e não compra as grandes verdades que existem no mundo, ela já é cientista”, comenta Kawoana no minidocumentário que, não por acaso, se chama “Questionando Verdades”. O filme foi produzido durante o encontro nacional do projeto, o Experiência Beta 2018.
Um dos personagens retratados no minidocumentário é Andrey Morawsky, mentor de quatro alunas no “Decola Beta 2018”. Antes disso, o jovem foi um dos mentorados: ele desenvolveu um extrato capaz de adoçar alimentos de forma natural, podendo ser usado por diabéticos e servindo como uma alternativa aos adoçantes artificiais. “Nunca era selecionado para feiras de ciências e não entendia por quê”, conta.
Fabíola Santana, que participou do último “Decola Beta”, cruzou o país para sair de Ananindeua, no Pará, onde mora, até São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, onde aconteceu o evento. “Desde os 16 anos eu queria ser cientista, mas ficava triste porque achava que só poderia desenvolver pesquisa no Ensino Superior.” Em seu projeto, usa uma planta chamada jucá para acelerar a cicatrização de feridas. “Ciência pode tanto trazer conhecimento quanto ajudar as pessoas.”
O “Cientista Beta” foi selecionado pelo Camp Serrapilheira para receber um financiamento de R$ 100 mil, por um ano. Ao longo de 2019, o projeto vai desenvolver o “Decola Beta para Professores”, programa presencial de formação de professores-orientadores para o trabalho em iniciação científica e aprendizagem baseada em pesquisas. As inscrições devem começar em abril.
“Aqui, o usuário vai ser o professor, mas o programa vai impactar indiretamente os alunos, que serão orientados por eles”, diz a líder do “Cientista Beta”, que também acaba de lançar um e-book com os resultados da iniciativa.
O minidocumentário contou com a produção de Ana Paula Santos e Thiago Coelho, da Save The Love.
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