Clarice Cudischevitch
Capacidade de comunicação e inteligência emocional foram o foco do segundo dia do treinamento em liderança científica feito com os pesquisadores grantees do Serrapilheira. O workshop é promovido pelo grupo britânico Barefoot Thinking Company, referência na área, e acontece durante a segunda edição do Encontros Serrapilheira, de 10 a 14 de novembro, no Rio de Janeiro.
Os participantes começaram a segunda parte do treinamento refletindo individualmente sobre que ideias o dia anterior trouxe para eles. Depois, compartilharam experiências de liderança que tiveram em suas rotinas de pesquisa e contaram de que forma influenciaram outras pessoas, nessas ocasiões.
“Enquanto o primeiro dia foi sobre pensamento estratégico, mais cerebral, o segundo dia da formação trata de técnicas para influenciar outras pessoas; é voltado à comunicação”, afirma Peter Redstone, treinador do Barefoot. “Uma das grandes mensagens da primeira parte é que, com algumas práticas, todo mundo pode pensar estrategicamente em um prazo relativamente curto.”
Para que os cientistas desenvolvam essas habilidades, os treinadores do Barefoot apresentam modelos e técnicas simples. “A ideia é oferecer ferramentas fáceis de usar, que possamos explicar em menos de dez minutos e que sejam multipropósitos, para que eles possam aplicá-las de diversas formas. Sabemos que, se não forem fáceis de serem usadas, eles não vão usá-las.”
Em um dos exercícios do treinamento, os participantes formavam um círculo e lançavam uma bola de tênis um para o outro, até que ela passasse por todo mundo. Em seguida, eles deveriam fazer o mesmo, repetindo a sequência de pessoas e estimando em quanto tempo conseguiriam. O grupo imaginou que completaria a atividade em três minutos, mas concluiu em 58 segundos.
A atividade continuava, de modo que os treinadores desafiavam os participantes questionando de que formas eles poderiam organizar o grupo para concluí-la mais rapidamente. O experimento introduz o que eles chamam de “leadership gearbox” (algo como “marchas da liderança”), em que identificam quatro estilos primários de influência – do mais diretivo, que busca resultados e tem questões fechadas, ao mais aberto, que visa ao diálogo e à escuta ativa.
Em outro exercício, os cientistas fizeram coaching um com o outro: um deles foi o treinador, o outro recebeu o treinamento e um terceiro observou o processo, dando, em seguida, um feedback sobre os desempenhos dos participantes.
Formando um grupo bastante diversificado, os grantees se beneficiam das técnicas trabalhadas no treinamento de diferentes formas. Para matemáticos, por exemplo, que costumam fazer pesquisa sozinhos na maior parte do tempo, a experiência é outra. “Eles exercem técnicas de liderança quando ensinam, trabalham com estudantes, orientam pós-graduandos”, explica Martin Bloxham, do Barefoot, acrescentando que matemáticos também gerenciam departamentos e lidam com financiamentos, momentos em que haverá uma expectativa de liderança. “Nessas situações, as ferramentas são aplicáveis.”
Tiago Pereira da Silva, matemático da USP, é um exemplo. Apesar de parte do seu trabalho envolver a resolução de problemas matemáticos de forma solitária, ele também precisa lidar com pessoas. “O meu projeto do Serrapilheira, particularmente, eu não consigo fazer sozinho. Preciso de profissionais com outras habilidades, como computação e neurociência”, aponta. Sua proposta é desenvolver uma teoria matemática para descrever comportamentos emergentes em redes complexas de sistemas dinâmicos não-lineares. Algumas dessas redes são o cérebro, redes de proteínas e sensores em cidades inteligentes.
Os 64 grantees que participam do Encontros Serrapilheira foram divididos em dois grupos para o treinamento em liderança científica. O primeiro fez o curso nos dias 10 e 11 de novembro e o segundo fará nos dias 13 e 14. Na segunda (12), todos se reunirão para o workshop de visualização de dados com a especialista do Google Fernanda Viégas.
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