Sergio Torres
Ao abrir o Camp Serrapilheira na manhã desta terça-feira (4), o diretor-presidente do Instituto Serrapilheira, Hugo Aguilaniu, propôs aos pesquisadores e divulgadores científicos que lotaram o auditório do Museu do Amanhã (Rio de Janeiro) a organização de uma homenagem à “memória da pesquisa brasileira”.
“Importante percebermos que a ciência é uma construção humana e que o cientista de hoje depende das descobertas de ontem. Quando essa base é retirada, tudo desmorona”, disse Aguilaniu na rápida fala de abertura.
Ao conclamar os cerca de 400 presentes a reverenciar o passado histórico e científico nacional, o diretor-presidente aludia ao incêndio que destruiu no Rio, neste domingo (2), o bissecular Museu Nacional, depositário de um acervo único composto por ao menos 20 milhões de itens nos campos da arqueologia, geologia, botânica, paleontologia, história, geografia, zootecnia a antropologia, entre vários outros.
“Não posso deixar de comentar sobre o incêndio do Museu Nacional, que representa uma grande perda, tanto para a ciência quanto para a história brasileira. Aqui no Camp, vamos falar muito do futuro, mas esta tragédia demanda que os pesquisadores e os divulgadores deem ainda mais atenção ao valor do passado.”
Para Aguilaniu, cabe agora aos pesquisadores e, principalmente, aos divulgadores dedicarem-se a “contar como esse conhecimento foi construído no passado” e quais “as descobertas envolvidas neste processo”.
“Os divulgadores são os mensageiros incumbidos de repensar essa memória por meio de divulgação científica. Os divulgadores são os responsáveis pela tradução do conhecimento científico e também de sua história”, acrescentou.
O diretor-presidente concluiu seu discurso com a constatação de que, no Brasil, “a cultura científica ainda não chegou a toda a sociedade, não faz parte da cultura popular”. Segundo ele, “isso explica, em parte, a razão pelo qual o investimento do Brasil na ciência ainda não é o que se espera de um país com essas dimensões”.
“Espero que os divulgadores participantes do Camp trabalhem junto nestes quatro dias e que não deixam de homenagear a memória da pesquisa brasileira. Caminhando nesta direção, os divulgadores já decidiram fazer uma homenagem ao Museu Nacional, que será concretizada nestes próximos dias”, finalizou Aguilaniu.
Mapeamento
A seguir, a diretora de Divulgação Científica do Instituto Serrapilheira, Natasha Felizi, saudou a a presença de cientistas e divulgadores. Ela falou que o objetivo do Camp é “mapear e apoiar iniciativas de divulgação científica no Brasil”.
“A ideia do Camp Serrapilheira é fortalecer uma rede de divulgadores e pesquisadores científicos que trabalhem conjuntamente. Na visão do instituto, a divulgação científica não é algo que se conduz posteriormente à pesquisa. Mas, sim, um valor e uma preocupação que devem estar presentes na produção científica desde os seus primeiros passos. Mais do que divulgação de resultados, a nossa divulgação científica enfatiza criatividade, as grandes perguntas e o método científico”, disse a diretora.
Gambiarra
O físico e diretor de Divulgação Científica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Yurij Castelfranchi, foi o primeiro palestrante neste dia inaugural do Camp Serrapilheira. Em pouco mais de 30 minutos, ele abordou o tema “O hacker e a gambiarra: surpresas e desobediências da divulgação científica”.
“As pessoas reinterpretam e reutilizam informação e conhecimento para criar coisas novas. Esperamos que as pessoas façam gambiarras com o que ensinamos para elas”, disse Castelfranchi, que emprega o termo gambiarra para definir a maneira como as pessoas se apropriam das informações científicas e as mesclam com convicções próprias relacionadas, por exemplo, à política, à religião e às emoções.
Para o pesquisador, que já trabalhou como jornalista especializado em divulgação científica na Europa, gambiarra não passa de “combinação de ideias”.
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