Pessoas LGBTQ+ são invisibilizadas na carreira científica. Neste Dia do Orgulho LGBTI, convidamos o biólogo Edson Vieira a escrever sobre o problema
Por Edson Vieira
Vamos fazer um exercício de memória e imaginação: durante a sua infância, quantas profissões te inspiravam? Era medicina, engenharia, direito, ensino, gastronomia, artes, e muitas outras. Agora imagine que você é uma criança LGBTQ+. Em que profissões você via grandes inspirações LGBTQ+ como você? O número provavelmente não é grande e a carreira científica certamente não era uma delas.
Numa rápida busca pela internet sobre cientistas LGBTQ+ que se destacam, obtemos algumas listas que não somam mais do que dez nomes. Esse é o grande problema da representatividade LGBTQ+ na ciência: as pessoas LGBTQ+ que chegam às universidades e instituições de pesquisas são invisibilizadas. Como podemos ter um aumento dessa representatividade se pessoas LGBTQ+ nem sequer têm a chance de projetar o ambiente de pesquisa como um potencial lugar para ser ocupado?
A causa principal para essa invisibilidade na carreira científica é a falta de conforto no ambiente de trabalho. Enquanto 80% das pessoas LGBTQ+ que escondem seu status se sentem confortáveis no ambiente de trabalho, 70% das que abrem seu status sentem algum desconforto. Isso é um reflexo de como a sociedade trata as pessoas LGBTQ+. No extremo mais “leve” temos as famosas piadinhas, enquanto no extremo mais grave temos assédio e agressão. A problemática do assédio é ainda maior quando consideramos a porcentagem de pessoas LGBTQ+ não-brancas (32%) que já sofreram algum tipo de assédio em relação às pessoas brancas (28%), e pessoas trans (41%) em relação a pessoas cis (28%).
Essa hostilidade presente em muitos ambientes acadêmicos faz com que, em média, 40% de cientistas LGBTQ+ não divulguem seus status de identidade/orientação. Há uma maior chance de esconderem seus status LGBTQ+ para colegas e estudantes no ambiente de trabalho mesmo quando isso não é um problema no ambiente familiar e com amigos próximos.
Apesar de sofrerem menos com discriminação direta, cientistas que não abrem seu status LGBTQ+ no ambiente de trabalho ainda sofrem impactos de forma silenciosa. Cerca de 41% de cientistas LGBTQ+ desistem das suas carreiras científicas, enquanto esse número é por volta de 26% para cientistas não LGBTQ+. Quando sobrepomos todos esses aspectos, entendemos por que não enxergamos pessoas LGBTQ+ na ciência. Mas como reverter esse cenário?
A resposta é mudar o ambiente de trabalho. Não basta existirem políticas e ações para aumentar o acesso de pessoas LGBTQ+ à carreira científica. Também são necessárias ações de inclusão, manutenção e suporte a essas pessoas depois de terem chegado à academia. Cientistas LGBTQ+ têm uma maior probabilidade de abertura de seus status quando o ambiente de trabalho é seguro, receptivo e trata todas as pessoas de forma igual, inclusive em relação a direitos trabalhistas, oportunidades e salários. Além disso, ambientes mais diversos são mais criativos e produtivos, e isso vale também para aumentar o conforto de cientistas LGBTQ+. A probabilidade de cientistas LGBTQ+ abrirem seus status e continuarem na carreira é proporcional à porcentagem de mulheres no ambiente de trabalho, ou seja, quando existe uma maior equidade de gênero.
Quanto mais receptivos e respeitosos forem os ambientes e grupos de trabalho, maior é a chance de cientistas LGBTQ+ tornarem seus status visíveis, uma vez que sentem maior segurança; produzirem na plenitude das suas possibilidades, já que não gastam energia física e mental ao se esconderem; e inspirarem outras pessoas, afinal, só podemos desejar ser o que enxergamos como inspiração. A ciência só vai ser mais colorida e diversa se essas cores tiverem espaço e segurança para brilhar.
Edson Vieira é um cientista LGBTQ+, pós-doutorando no Laboratório de Ecologia Marinha da UFRN, e um aventureiro no mundo da comunicação científica.
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