Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, ganhadoras do Prêmio Nobel 2020 em Química
Clarice Cudischevitch
Texto atualizado em 13/11/2020
A revolucionária técnica de edição do genoma conhecida como CRISPR é a maior descoberta do século no campo da genética, mas tudo começou com duas cientistas tentando entender melhor o mecanismo de defesa de bactérias. A pesquisa, que rendeu um Prêmio Nobel à microbióloga Emmanuelle Charpentier e à bioquímica Jennifer Doudna, mostra que da ciência básica podem surgir grandes tecnologias.
A 4ª chamada pública do Serrapilheira mira justamente neste tipo de pesquisa: aquela que quer, sobretudo, entender questões fundamentais da ciência, sem focar na geração de produtos ou tecnologias. Ainda assim, muitos casos na história mostram que, apesar de a aplicação não ser o objetivo principal da pesquisa básica, ela pode surgir e, como o CRISPR, ter um grande potencial transformador.
Da física quântica, por exemplo, surgiram inovações como o laser, o GPS e os aparelhos de ressonância magnética. Esta nova visão da natureza, que afirma que a luz se comporta ora como ondas, ora como corpos minúsculos e se afasta dos conceitos clássicos da área, teve início com Max Planck e outros cientistas que, na época, não tinham ideia das possíveis aplicações de suas descobertas.
“Eram jovens movidos pela curiosidade e pela paixão”, comenta o físico da UFRJ e conselheiro científico do Serrapilheira Luiz Davidovich, em entrevista à Academia Brasileira de Ciências. Cem anos depois dos trabalhos de Planck, um artigo publicado na revista Scientific American mostrou que, no ano 2000, 30% do PIB dos Estados Unidos eram baseados em tecnologias tornadas possíveis pela física quântica.
A área mais abstrata da ciência, a matemática, também é repleta de aplicações concretas. A utilidade da teoria dos números, por exemplo, chegou a ser subestimada pelos próprios matemáticos puros, que costumavam brindar: “‘À teoria dos números, e que ela nunca seja útil a ninguém!’”. Ainda assim, a disciplina revelou aplicações importantes em áreas como a criptografia e a ciência da computação.
A teoria dos grafos, desenvolvida por Leonhard Euler no século 18, hoje influencia diretamente sistemas inteligentes de transporte aéreo, planejamento de tráfego urbano, redes de estradas, controle de epidemias e até mesmo tabelas de campeonatos de futebol. Na época, o matemático buscava uma forma de fazer um percurso que passasse por todas as sete pontes do centro da cidade de Königsberg, na Prússia, apenas uma vez. Observou, no entanto, que isso não seria possível porque cada ponto de saída tinha um número ímpar de caminhos.
Transformando os caminhos em linhas e suas interseções em pontos, Euler criou, possivelmente, o primeiro grafo da história. Assim, nasceu seu teorema: um grafo possui percurso fechado passando exatamente uma vez por cada uma das arestas se, e somente se, todos os vértices são pares.
Se você tem uma grande pergunta fundamental nas áreas de ciências naturais, ciência da computação ou matemática, poderá ter um projeto selecionado pela 4ª chamada pública de apoio à ciência do Serrapilheira, aberta até 16 de dezembro. Acesse o edital para conhecer as condições de elegibilidade.
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