Sergio Torres
Projetos empenhados na difusão e popularização da astronomia e da ciência aeroespacial entre jovens brasileiros foram apresentados na manhã desta quarta-feira (5) no Laboratório de Atividades do Amanhã (LLA) do Museu do Amanhã, no segundo dia de atividades do Camp Serrapilheira.
A universitária Carla dos Reis Martins, que cursa Engenharia da Computação na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), falou sobre o Projeto Cosmos. Ela contou que seu encantamento pela astronomia surgiu quando convidada por um professor para participar da Olimpíada da Astronomia.
“Nem sabia o que era astronomia. Com muito esforço, tirei a medalha de bronze. No ano seguinte, estudei muito e acertei todas as questões da Olimpíada”, relembrou Carla, que decidiu, com amigos também admiradores da astronomia, criar um grupo com o objetivo de espalhar os conhecimentos astronômicos aos estudantes interessados.
Surgiu o Projeto Cosmos, que, em três anos, já formou sete turmas preparatórias para olimpíadas, organizou sete ações comunitárias e realizou 25 palestras e oficinas.
Carla relaciona três valores que norteiam a ação do Cosmos: amor pela ciência, diversão e criatividade. “Os poucos recursos financeiros exigem que sejamos ainda mais criativos. Juntos mudaremos o mundo”, disse ela, em referência ao lema do projeto.
A química Graciele Oliveira falou sobre o Projeto Bingo, idealizado por uma equipe multidisciplinar com o objetivo de promover a educação e a divulgação científicas, com focos na astronomia e na radioastronomia. Um telescópio totalmente construído no Brasil será instalado no sertão da Paraíba.
“É um radiotelescópio exclusivamente projetado para fazer a detecção de Oscilações Acústicas de Bárion”, afirmou Graciele.
Cidade com 5,5 mil habitantes, Aguiar receberá o telescópio. Os participantes do Projeto Bingo trabalham no local, para interagir com a população, por meio de palestras, programas de formação de educadores multiplicadores e a realização de atividades visuais e educativas, na escola e em espaços públicos, como praças.
O engenheiro espacial Lucas Fonseca apresentou a Missão Garatéa, que fundou e dirige no Brasil. Ele criou o Garatéa em 2016, três anos depois de ter voltado ao Brasil. Fonseca trabalhou na Missão Rosetta, da Agência Espacial Europeia, responsável pelo envio ao espaço da sonda que pousou no cometa 67P, no Sistema Solar.
“Por que as pessoas não são motivadas a falar de espaço no Brasil? Voltei ao Brasil com essa ideia. Quem não pensou em ser astronauta? Quem não pensou em trabalhar na Nasa [agência espacial norte-americana]?”, perguntou à plateia.
Desdobramento da Missão Garatéa, a Garatéa-L se propõe a lançar em 2021 a primeira espaçonave brasileira ao redor da Lua. Outro projeto é o envio à estratosfera de balões com experimentos de crianças. “Já atingimos 3 mil estudantes de mais de cem cidades”, afirmou.
O foco da atuação do projeto Cientista Beta é a divulgação científica, dirigido a estudantes dos ensinos médio, fundamental e técnica. Idealizadora do projeto em 2015, a universitária Kawoana Vianna, que cursa medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conta que a proposta é dar suporte a jovens de todo o Brasil interessados em se desenvolver pessoal e profissionalmente por meio da ciência.
“O jovem precisa de uma rede de apoio, de um professor que possa orientá-lo, de um mentor. Além disso, precisa ser reconhecido pelo que está fazendo, alguém que diga que ele está no caminho certo. Em três anos, chegamos a 245 jovens, 80 mentores, 136 projetos científicos e 61 prêmios. Atingimos 67 cidades nas cinco regiões brasileiras e 76 escolas”, disse ela.
Para o professor Antônio Manoel Costa, físico formada pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o trabalho de difusão da astronomia que desenvolve em Paulo Afonso, cidade no interior da Bahia, já apresenta resultados.
Os estudantes lançam este ano o segundo volume do livro “Ficção Científica na Escola”, de contos escritos por eles.
“Procuramos incentivar o aluno a escolher o tema da astronomia que gostaria de aprender e ver como aquilo pode ser aplicado na ficção científica”, disse Costa na sua apresentação no Camp.
As questões de gênero, raça e etnia na divulgação científica foram abordadas pelo físico Alan Brito, professor-adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“Todos os nossos projetos buscam negros, idosos, quilombolas, indígenas, os mais pobres. A gente vive um racismo científico ainda do século 20. A divulgação científica está desvinculada das questões de gênero e raça”, disse o mestre e doutor em Ciência pela Universidade de São Paulo (USP).
O grupo utiliza a astronomia para despertar a curiosidade científica entre estudantes do ensino médio e desenvolve métodos de ensino de ciências replicáveis em todo o país.
Cientista Beta envolve estudantes e professores em idade escolar na iniciação científica e aprendizagem baseada em pesquisa por meio de programas.
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