05/05/2022 01:28

O Oscar do microscopista

  • Blog Ciência Fundamental

A ciência precisa superar o conceito de autoria para se adaptar ao século XXI

Ilustração: Julia Jabur

Por Olavo Amaral

Polêmicas em torno da definição de autoria não são exatamente novas na ciência. Já no século XVII, Isaac Newton e Gottfried Leibniz se engalfinhavam pela primazia na invenção do cálculo – em larga parte porque a documentação do processo científico ainda era incipiente.

Com o advento do artigo científico, registrar a autoria de ideias ficou mais fácil, e o conceito se tornou central na organização da comunidade acadêmica. A autoria de trabalhos de pesquisa define praticamente todas as métricas de avaliação de cientistas, servindo como critério para distribuir empregos, verbas e reconhecimento. Não por acaso, boa parte das controvérsias no campo da integridade científica giram em torno dela, como em casos de plágio, autoria honorária ou disputas entre autores.

Dito isso, o que significa ser autor de um artigo? A autoria na literatura já foi problematizada por pensadores como Michel Foucault ou Roland Barthes, mas estabelecê-la na ciência é bem mais difícil. Com pesquisas cada vez mais complexas e colaborativas, um trabalho científico comumente depende de dezenas ou centenas de pessoas. Algumas permanecerão envolvidas com o projeto por anos, enquanto outras farão contribuições pontuais – mas por vezes cruciais. Como traçar a linha imaginária que determina quem é um “autor”?

Áreas diferentes de pesquisa lidam de formas distintas com o problema. Muitas delas empregam os critérios do International Committee of Medical Journal Editors, que dizem que um autor deve preencher quatro quesitos: (a) contribuir substancialmente para a concepção ou o desenho do trabalho, ou para a coleta, análise, ou interpretação dos dados; (b) participar na redação ou revisão do artigo; (c) aprovar a versão final publicada e (d) concordar em ser responsável por todos os aspectos do trabalho.

A definição é vaga o suficiente para incluir qualquer um que tenha dado pitacos em diferentes etapas de um projeto, já que o que constitui uma “contribuição substancial” é bem subjetivo. Mas também é estrita o suficiente para excluir alguém que, embora tenha coletado todos os dados, não tenha lido a versão final do artigo. Para além disso, a ideia de que cada autor assuma responsabilidade pelo todo é insustentável – em um projeto envolvendo experimentos com técnicas diferentes em múltiplos laboratórios, é óbvio que ninguém poderá atestar sozinho a integridade de tudo o que foi feito.

Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S.Paulo.

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