27/07/2022 07:12

Ciência e turismo lado a lado na Chapada Diamantina

  • Blog Ciência Fundamental

Propostas de criação de geoparques na região projetam a comunidade como protagonista

Ilustração: Lívia Serri Francoio

Por Clarice Cudischevitch

Quem for à Chapada Diamantina, na Bahia, e perguntar qual de suas incontáveis cachoeiras é a mais bonita, ouvirá muitas vezes a mesma resposta: Buracão. Parte do deslumbre se deve à experiência de chegar lá. São 3km de trilha, e os 100 metros finais são percorridos a nado, entre cânions suntuosos. Ao fazer a curva do rio, o visitante se depara com os 85 metros de queda d’água. Poucos tinham esse privilégio até o fim dos anos 1990, quando a comunidade local lutou pela abertura da cachoeira a visitantes. Agora, o engajamento da sociedade na atividade turística promete se intensificar, graças a novas propostas de geoparques na região. 

Dos sete projetos de criação de geoparques mundiais da Unesco na Bahia (o estado com mais propostas no país) sugeridos pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), quatro ficam na Chapada Diamantina. Não é por acaso: com rochas que contam uma história de bilhões de anos, 30 mil vezes mais antiga que a da espécie humana, e trazem evidências de que lá já existiram desertos, geleiras, vulcões e mares, a Chapada é o paraíso da geologia no Brasil. Ali foram encontradas as rochas mais antigas da América do Sul, com 3,65 bilhões de anos, mostrou a edição de maio de 2022 da revista Pesquisa Fapesp.

Geoparques são projetos não apenas científicos ou turísticos, mas também sociais. São descritos como botton-up, ou seja, criados pela base – a comunidade –, com apoio do poder público. A Unesco os define como “áreas geográficas unificadas, onde sítios e paisagens de relevância geológica internacional são administrados com base em um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável”. A ideia é promover a conservação por meio do empoderamento da população local e da redução das desigualdades. 

Hoje existem 177 geoparques mundiais da Unesco em 46 países. Três estão no Brasil: o do Araripe, no Ceará; o do Seridó, no Rio Grande do Norte; e o Caminhos dos Cânions do Sul, entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os dois últimos ganharam o título em abril de 2022.

Das quatro propostas de geoparques na Chapada Diamantina (destrinchadas em um artigo publicado em abril na revista “Geoheritage”), a mais avançada é a da Serra do Sincorá, que já conta com uma entidade sem fins lucrativos focada na sua implementação, a Associação Geoparque Serra do Sincorá – AGS. O projeto prevê uma área de 6.313 km² que engloba os municípios de Andaraí, Lençóis, Mucugê e Palmeiras, e uma população de 44 mil habitantes. Renato Azevedo, coordenador geral do projeto da AGS, afirma que a expectativa é submeter a candidatura à Unesco em 2024 e obter a homologação em 2025. “Estamos com 48% do trabalho implantado”, diz.

Se nos geoparques a ciência anda de mãos dadas com o turismo, na Chapada Diamantina isso já acontece naturalmente. É comum ouvir dos guias que “a Chapada era fundo de mar” ao explicar curiosidades locais, como os típicos arenitos rosados. E é verdade. A região do Projeto Geoparque Serra do Sincorá, por exemplo, foi um grande mar em pelo menos dois momentos distintos. O último episódio marinho, há 600 milhões de anos, foi reciclado por processos de formação de montanhas oriundas da colisão de placas tectônicas.

Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S.Paulo

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Esta matéria foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, os textos do blog Ciência Fundamental vão refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil e a sua relação com outros temas de interesse público. O de hoje é sobre ciência e turismo. 

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