Jovens estão aprendendo em campo como unir o trabalho teórico e prático em ecologia
Dezesseis estudantes de graduação e mestrado estão imersos num curso de campo na Mata Atlântica e na Amazônia promovido pelo Instituto Serrapilheira. Eles participam do Programa de Formação em Ecologia, destinado a capacitar cientistas de qualquer área do conhecimento para atuar nos diferentes subcampos da pesquisa ecológica .
De 3 a 13 de julho, os jovens pesquisadores farão o módulo prático do curso em uma área de Mata Atlântica no Parque Estadual do Itinguçu, em Peruíbe/SP. Depois, seguem para a Floresta Amazônica, na Área de Relevante Interesse Ecológico do Km 41, onde ficam até 23 de julho. A ideia de levar os futuros cientistas para visitar dois biomas diversos em uma mesma viagem é ensinar aos alunos que essa atividade de campo é feita de forma diferente dependendo da região em que estão.
Antes de embarcar para o trabalho de campo, no início de julho, os alunos fizeram uma formação teórica nos meses de janeiro e fevereiro no Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR), em São Paulo. Com aulas ministradas por cientistas de renome internacional, como Karen Abbott (Universidade Case Western Reserve, EUA), Priyanga Amarasekare (Universidade da Califórnia, Los Angeles, EUA) e Roberto Kraenkel (Instituto de Física Teórica da UNESP, Brasil), os jovens cientistas se aprofundaram nas principais questões da ecologia e receberam treinamento de modelagem matemática e métodos computacionais.
O objetivo da etapa prática do curso é aplicar em campo os modelos teóricos desenvolvidos na primeira fase e fazer o caminho inverso, pegando informações in loco para trabalhar em novas modelagens no campo da ecologia, a partir das ferramentas quantitativas aprendidas. Eles ainda vão aprender como fazer o relato acadêmico de uma experiência prática.
“Estar no campo é transformador para muitos alunos”, explica Flávia Marquitti, coordenadora científica do Programa de Formação em Ecologia. “Tem coisas que não dá para imaginar que acontecem caso não sejam vistas. E integrar esses dois lados a parte teórica e a coleta de dados, faz com que o trabalho feche um ciclo. Para os alunos, ter contato com os fenômenos naturais e fazer perguntas a partir de observações feitas por eles mesmos é um aprendizado imenso.”
Os 16 alunos foram divididos em quatro grupos de quatro integrantes. Eles serão instruídos por cientistas experientes no trabalho de campo da ecologia, como Gustavo Requena (Sacred Heart University EUA) e Catarina Jakovac (Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC). As equipes terão ainda o apoio de quatro tutores.
Cada grupo desenvolverá um projeto próprio para cada um dos dois biomas. Ao final da imersão, os estudantes deverão apresentar dois relatórios em formato de artigo científico com as conclusões detalhadas de seus projetos.
Como é o trabalho de campo?
O trabalho na Mata Atlântica é coordenado pelo professor Glauco Machado, da USP. Em Peruíbe (SP), os alunos iniciaram os estudos participando de um curso sobre método científico e redação científica. Na sequência, eles definiram os projetos de cada grupo e iniciaram a pesquisa de campo. Parte das atividades dos pesquisadores inclui a coleta de materiais e dados relativos aos projetos, enquanto a outra parte do trabalho é a análise desses materiais. Os participantes ficarão na região até 13 de julho.
Já o professor Paulo Enrique Peixoto, da UFMG, vai coordenar o trabalho na Amazônia. Depois de definirem os projetos, os alunos darão início à coleta de dados e materiais, seguida pela etapa de análise. Os alunos ficarão no local de 15 a 23 de julho.
O Programa de Formação em Ecologia quer contribuir para a formação de futuros cientistas. E a longo prazo desenvolver uma rede densamente conectada de cientistas brasileiros promissores, dedicados às grandes questões da ecologia.
“O campo da ecologia é estratégico para o Serrapilheira porque acreditamos que o desenvolvimento do Brasil depende de sua capacidade de entender e preservar seus ecossistemas tropicais”, destaca Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do instituto. “É uma tarefa ambiciosa que exige capacidade analítica e conhecimento do campo, e o Programa de Formação em Ecologia é um primeiro passo nessa direção. É essencial que a ciência brasileira, de modo geral, abrace a transdisciplinaridade e que os campos da biologia, informática, mas também de humanidades e economia conversem cada vez mais para encontrar soluções sustentáveis para nossos ecossistemas.”
A Formação em Ecologia é o eixo de atuação mais recente do Serrapilheira, instituição privada sem fins lucrativos. Desde 2017, o instituto apoia pesquisas de jovens cientistas e iniciativas de comunicação da ciência. Ao todo, cerca de R$ 80 milhões foram investidos em mais de 300 projetos.
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