Clarice Cudischevitch
A Amazônia não é uma coisa só: por ser uma região extensa, é tomada por particularidades que tornam seu estudo ainda mais complexo, mas também podem ser essenciais para sua preservação. A relação entre as diferentes características deste ambiente e sua resiliência são o objeto de estudo da matemática da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Marina Hirota, nova pesquisadora grantee do Serrapilheira.
Na região Amazônica, é possível encontrar diferentes biomas, solos, regimes de precipitação e outras peculiaridades, o que faz com que sua vegetação também tenha respostas distintas a eventos ambientais. No caso, por exemplo, de uma seca extrema, dependendo das condições ambientais em que cada tipo de floresta, há maior ou menor chance de haver recuperação, isto é, maior ou menor vulnerabilidade.
Para explicar o processo, Hirota faz uma comparação: “Imagine uma criança que cresceu em uma metrópole, foi criada em apartamento, sem brincar na rua, em meio à preocupação com limpeza. Ela terá uma maior prevenção contra doenças, mas, caso pegue alguma, pode ser avassaladora. Já uma criança de interior, que brinca na terra, coloca coisas na boca, está mais exposta naturalmente e, a princípio, mais resistente. O mesmo acontece com a floresta.”
A ideia de Hirota é, portanto, identificar as heterogeneidades que se traduzem na vulnerabilidade ou na resistência, dependendo da forma com que foram expostas, tanto da floresta Amazônica quanto de outros biomas. “Em ambientes grandes como a Amazônia, com muitas heterogeneidades de uma forma sistêmica, as plantas têm a condição de serem muito mais resistentes não individualmente, mas como grupo, porque essa perturbação não vai se espalhar por uma bacia inteira e matar toda a floresta. As heterogeneidades servem como barreiras naturais que freiam essa perturbação.”
Nos anos 2000, por exemplo, foi prevista uma savanização da floresta Amazônica e, hoje, já há evidências de que esse fenômeno não vem se concretizando. “Queremos desenvolver esse estudo em campo e em grande escala, não só pela teoria. Também procuramos estudar o Cerrado e a Caatinga, além da Amazônia.” A pesquisa tem potencial para contribuir para a preservação ambiental, ao identificar as áreas em que a Amazônia é mais vulnerável. “Isso poderia fomentar alguma política de conservação.”
Apaixonada por esportes, Hirota chegou a jogar vôlei profissionalmente na adolescência. Ela conta que esta era sua primeira opção de carreira, mas sua mãe, japonesa, insistiu para que ela seguisse com os estudos. “Perdi as duas finais dos campeonatos mais importantes nos finais de semana em que tive que fazer vestibular da Fuvest e chorei muito.”
Como gostava de todas as disciplinas na escola, decidiu fazer a graduação em Matemática Aplicada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) porque queria uma base instrumental que a possibilitasse atuar em várias áreas. “Percebi que todo mundo queria um estagiário da Matemática. Trabalhei com bioquímica do exercício em Educação Física, criptografia de bancos, prospecção de petróleo, ciências da terra. Gostava de tudo.”
Concluiu o mestrado em Engenharia Elétrica também pela Unicamp e o doutorado em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), após conversar com o pesquisador Carlos Nobre e se apaixonar por uma de suas áreas de atuação: efeito das mudanças climáticas na vegetação. No pós-doutorado na Universidade de Wageningen (Holanda), se aproximou da Ecologia combinada à teoria matemática dos sistemas dinâmicos.
Hirota, que veio de uma família simples e aprendeu a falar inglês em uma viagem de mochilão, conta que, hoje, substituiu o vôlei pelo surf e está aprendendo a tocar violão. “Mas acho que o lance da ciência já estava em mim desde o início. Sempre gostei de estudar e tive curiosidade. O que me conquistou foi a interdisciplinaridade; estudar várias áreas com um só objetivo”, destaca a pesquisadora.
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