Clarice Cudischevitch
Por que não conseguimos ver quatro dimensões? Para responder à pergunta, o português Rogério Martins foi interdisciplinar: explorou a filosofia, a biologia e, claro, a matemática. Ele foi o último palestrante do ciclo de divulgação científica promovido pelo Instituto Serrapilheira e pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), durante o Congresso Internacional de Matemáticos (ICM 2018), no Rio de Janeiro.
Rogério Martins é o criador e apresentador do programa “Isto é matemática”, que ficou no ar durante dois anos na rede de TV portuguesa SIC Notícias. Em cada episódio, ele passeia por cenários de Portugal para mostrar, de forma bem-humorada, como a disciplina está presente em tudo. O programa já conta com 11 temporadas. Os episódios são lançados no canal do Youtube, seguido por mais de 10 mil pessoas.
“Ele é pesquisador da área de sistemas dinâmicos, mas tem um dom e uma graça naturais para a comunicação, então construiu uma carreira paralela”, comentou o também matemático Jorge Buescu, que apresentou o palestrante. “Martins é o rosto da matemática em Portugal.”
Não por acaso, o programa recebeu, em 2013, o Prêmio VerCiência de Mostra Internacional de Ciência na TV. Em 2018, foi transformado em livro, que já está na segunda edição.
“Hoje, vou falar de um problema filosófico: por que não conseguimos ver mais de três dimensões?”, questionou Martins, que, no ensino médio, preferia filosofia à matemática. “Eu vi, então, que a matemática é, na verdade, um tipo de filosofia em que as perguntas têm respostas.” Segundo o pesquisador português, conseguimos entender o que acontece em quatro dimensões, mas não visualizar.
Não existe razão para não se considerar haver quatro dimensões. Seria, simplesmente, um espaço definido por quatro coordenadas. O problema é não haver uma forma gráfica para representá-lo. “Nós usamos o espaço tridimensional para descrever a nossa realidade física. Por isso, dizemos que vivemos num mundo tridimensional; se ajusta à forma perfeita. Em um elevador, só podemos ir para um lado e para o outro, para cima e para baixo.”
Há quem diga que a quarta dimensão seria o tempo. “De certa forma, podemos considerar outras dimensões que nos ajudam a compreender nosso estado, mas o tempo tem uma natureza diferente”, explicou Martins. “Teorias da mecânica quântica utilizam muitas outras dimensões, mas elas não passam de abstrações matemáticas, não têm realmente a ver com o espaço físico.”
Para a compreensão física do mundo, utilizamos uma forte intuição espacial, informou o professor da Universidade Nova de Lisboa. Da filosofia, ele pulou para a biologia.
“Nosso cérebro foi formado para duas coisas: gerir tanto a química interna, por meio da homeostase, quanto a relação do corpo com o que nos rodeia. O que chamamos de cognição foi criado em cima de uma estrutura originalmente feita para nos relacionarmos com o espaço”, disse.
O palestrante fez uma analogia com as cores. Assim como nossa visualização do espaço é tridimensional, temos uma visão tricromática, com sensores que visualizam apenas três cores primárias. De acordo com Martins, no entanto, há mulheres – e não são poucas – que são tetracromáticas, o que explicaria uma capacidade de ver diferença em cores que, para os homens, são iguais.
“Se fôssemos capazes de ver mais de três dimensões, a evolução poderia ter ocorrido de outra forma e, talvez, até poderíamos ter criado uma matemática diferente, a partir de outra intuição espacial. Uma coisa que nos limita quando fazemos matemática é que nos baseamos em nossa intuição física tridimensional, restringindo-se ao que conseguimos representar em gráficos”, observou.
Veja mais: ‘Matemática é uma herança cultural’
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