Qual é o impacto da chegada dos filhos na carreira de mães e pais cientistas? O grupo Parent in Science levanta dados para tentar entender os efeitos da parentalidade na vida acadêmica e, assim, embasar políticas que possam contribuir para esse equilíbrio. Para isso, convida pesquisadores de ambos os gêneros a responderem questionários sobre o tema.
Quanto mais abrangente for o levantamento, melhor será a capacidade do grupo de entender o cenário, explica o biólogo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Felipe Ricachenevsky, grantee na 1ª Chamada Pública do Serrapilheira. O grupo, no entanto, costuma receber poucas respostas de homens, tanto pais quanto não pais.
“Nós não sabemos, ainda, o efeito da paternidade na carreira dos cientistas brasileiros”, lamenta o biólogo, único membro do gênero masculino do Parent in Science. “Infelizmente – e talvez refletindo o baixo envolvimento dos pais com questões envolvendo os filhos – temos participação muito pequena de homens, pais e não pais (pesquisadores que não tem filhos nos ajudam também, pois são nossos controles).”
Para estimular mais respostas de homens aos questionários, Ricachenevsky escreveu um artigo em que relata sua experiência pessoal com a paternidade. Ele é pai de Maya, de 3 anos. Confira abaixo o artigo completo e os links para os questionários.
“Me tornar pai mudou completamente minha vida. Mas nós, os pais, somos os sortudos.
Felipe Ricachenevsky
Quando a minha filha Maya nasceu, minha vida virou de ponta-cabeça. O amor é tão óbvio que chega a ser indescritível – só quando acontece para entender. Ela nasceu às 7:42 da manhã, e eu só parei de chorar às 10 da manhã. A primeira vez em que ela dormiu no meu colo, fiquei acordado a noite toda, só para curtir o momento – algo que repeti diversas vezes nos meses seguintes.
Porém, também repeti a parte difícil de ser pai: o sono passou a ser pouco, e espaçado; a memória, péssima. Uma sensação de constante atraso, seja para o trabalho, seja para voltar pra casa. E uma aflição de que, quando estava num lugar, devia estar no outro. Alimentação, quando dava; atenção, pra quase nada. É uma exaustão igualmente indescritível. Também, só quando acontece para entender.
E quando eu, pai, olhava para o lado, eventualmente achando que talvez estivesse com uma fatia grande da dificuldade, via a mãe. No mundo perfeito, a divisão seria igual entre nós dois, incluindo cansaço. E nos esforçamos para ser, sempre – até hoje. Mas a realidade se impôs, e eu percebi porque eu era, de nós dois, o que sempre estaria com a menor carga: porque espera-se pouco de mim. Mesmo que nós dois equilibrássemos a balança, eu sempre estaria em vantagem. Porque o pai não tem como errar.
O pai moderno, que “até troca fralda” (como se esse fosse o limite da dificuldade que um homem deve enfrentar ao ser pai – não é, obviamente), tem um benefício quase intransponível. Se o pai está no trabalho, e a filha doente em casa, ele é um profissional sério – “imagina, veio assim mesmo”. Se está atrasado porque ficou cuidando da filha doente, é um excelente pai, “participa, consegue conciliar as duas coisas”. Qualquer pequeno ato, qualquer tentativa de ser o que a mãe é o tempo todo, nos garante pontos. Porque ainda se espera muito pouco dos pais. Porque se não fazemos, se não estamos lá, é implícito que a mãe esteja. A mãe, ao contrário, sempre é cobrada: devia estar mais no trabalho (“a qualidade dela caiu desde que virou mãe”), mas também não está suficientemente com o filho (“vejam só, ela se preocupa com a carreira numa hora dessas”). Nós, os sortudos, sempre ganhamos créditos extra – ser pai, talvez, possa ser até benéfico para nossa carreira!
Os pais precisam começar a dividir, ativamente, o ônus de maternidade/paternidade. Precisam dizer que não podem estar presentes em algumas reuniões, atividades, etc, e que os filhos são o motivo. Deixem isso claro – para todos entenderem que ambos, pais e mães, tem outra pessoa que requer cuidados e atenção, com prioridade. Que precisam pegar na escola no final da tarde, que final de semana não é livre, e que não podem aceitar trabalho se sobrepondo a esses momentos. Especialmente nos primeiros anos, que são ainda mais especiais – e trabalhosos – em que todos estão se adaptando à nova rotina. Que queremos essa parte da vida pessoal de maneira igualitária, pois nada é mais importante – e que requer mais responsabilidade – do que a paternidade. Nós, pais, precisamos deixar claro que isso não é algo que se deve esperar apenas das mães, mas de qualquer um que tiver filhos. E que queremos esse ônus profissional igualmente dividido.
Mas nós não sabemos, ainda, o efeito da paternidade na carreira dos cientistas brasileiros. Para isso, precisamos de números. O Parent in Science vem propondo avaliar, sistematicamente e de maneira quantitativa, o efeito da maternidade e da paternidade na carreira dos docentes, pós-docs e pós graduandos do Brasil. Infelizmente – e talvez refletindo o baixo envolvimento dos pais com questões envolvendo os filhos –temos participação muito pequena de homens, pais e não-pais (pesquisadores que não tem filhos nos ajudam também, pois são nossos controles).
Por isso, pedimos que dediquem alguns minutos e preencham o questionário online abaixo. As informações serão muito importantes nessa discussão, para levantar e entender os números e para ajudar a propor políticas que melhorem o cenário atual.”
Os questionários podem ser respondidos aqui:
Pesquisadores pais: link
Pesquisadores sem filhos: link
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