Clarice Cudischevitch
A ciência brasileira está bem cotada no mundo. É o que mostrou a Nature Conference: Advances in Metabolic Communication, evento internacional que reuniu especialistas no estudo do metabolismo durante quatro dias no Rio de Janeiro. No encontro, que terminou nesta sexta-feira, 18, pesquisadores nacionais foram constantemente citados por palestrantes de diversos países.
Não por acaso, o evento homenageou dois grandes nomes brasileiros que ajudaram a construir a área pela qual o país é amplamente reconhecido hoje, a bioenergética. Um deles é o pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Anibal Vercesi, que estava presente no evento.
Ao defender sua tese de doutorado em 1974, Vercesi mostrou que as mitocôndrias (estruturas responsáveis por converter a energia dos alimentos em energia celular) têm um papel importante na regulação de cálcio no interior das células. Explicou, ainda, como o estresse oxidativo mitocondrial pode ser um fator causador de acúmulo de colesterol nos vasos sanguíneos na aterosclerose.
“Sua contribuição científica é enorme, mas, para mim, a maior qualidade de Anibal é como professor”, comentou, na homenagem, a pesquisadora da USP Alicia Kowaltowski, que foi orientada por Vercesi. “Ele é excelente em transmitir seu conhecimento e formou mais de 300 pessoas.”
Outro homenageado foi Leopoldo de Meis, falecido em 2014. Nascido no Egito, o médico construiu carreira como professor e pesquisador da UFRJ e dedicou-se tanto ao estudo da transdução de energia e bomba de cálcio quanto à educação e divulgação científica. No tributo, o professor da UFRJ Antonio Galina, orientado por de Meis, contou que o brasileiro convidou o renomado cientista Paul Boyer para trabalhar em seu laboratório no Rio, que aceitou. Quando Boyer venceu o Prêmio Nobel de Química, chegou a citar de Meis em dois momentos em seu discurso.
“Leopoldo é, provavelmente, o mais proeminente pesquisador em bioquímica que tivemos”, ressaltou Eduardo Chini, que também faz parte da geração de cientistas formados por de Meis. “No seu laboratório, ele não se importava se a pessoa era pós-doc, doutora ou estudante. Acreditava em quem fazia ciência e que o conhecimento pode vir de qualquer lugar.”
“Ficou evidente o impacto da ciência brasileira desenvolvida nessa área, não só historicamente, mas também com trabalhos recentes”, afirma a diretora de Pesquisa Científica do Serrapilheira, Cristina Caldas. “Um exemplo é o fato de o pesquisador Eric Verdin, do The Buck Institute for Research on Aging, ter citado ao longo de toda a sua palestra o trabalho de Juliana Camacho e Eduardo Chini, que são cientistas jovens. Esperamos que a conferência tenha aberto portas para brasileiros se inserirem cada vez mais em redes internacionais de conhecimento.”
A pesquisa internacional em metabolismo
A produção científica brasileira vem chamando a atenção, mas o evento também foi uma oportunidade de conhecer grandes trabalhos conduzidos em laboratórios internacionais. Um dos destaques foi o professor da Harvard Medical School Ronald Kahn, referência na pesquisa em diabetes e obesidade. Em estudo publicado recentemente na revista Cell Metabolism, Kahn mostrou que a frutose é mais prejudicial ao organismo do que a glicose. “Esse açúcar não é queimado de forma eficiente pelo fígado, o que, em longo prazo, pode levar a um acúmulo de gordura no órgão, síndrome metabólica e cirrose”, explica.
Isso não significa, vale ressaltar, que as frutas sejam danosas à saúde, pois sua quantidade de frutose é baixa. O problema está no xarope de milho rico em frutose, comumente usado para adoçar alimentos industrializados como refrigerantes, cereais e produtos de panificação, por ser mais barato e mais doce que a glicose. O grupo de pesquisa de Kahn passou cerca de quatro anos estudando esse aspecto em particular, mas o trabalho é parte de uma pesquisa fundamental que busca entender, de modo geral, como a dieta é metabolizada pelo organismo.
Para o médico e professor da UFRJ Marcelo Bozza, eventos científicos como a Nature Conference têm um papel essencial de evitar o isolamento dos cientistas. “Hoje, mais do que nunca, precisamos restabelecer ambientes de encontro para falar sobre ciência, ideias, proximidades. Há uma carga muito pesada contra a ciência e uma forma de minimizar isso é encontrando parceiros que possam dar o braço tanto para esse momento de dificuldade quanto para lidar com problemas nas pesquisas em si.”
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