18/10/2019 02:27

Brasil vem se tornando referência na pesquisa em metabolismo

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Palestrantes da Nature Conference: Advances in Metabolic Communication. Foto: Larissa Kreili

Clarice Cudischevitch

A ciência brasileira está bem cotada no mundo. É o que mostrou a Nature Conference: Advances in Metabolic Communication, evento internacional que reuniu especialistas no estudo do metabolismo durante quatro dias no Rio de Janeiro. No encontro, que terminou nesta sexta-feira, 18, pesquisadores nacionais foram constantemente citados por palestrantes de diversos países.

Não por acaso, o evento homenageou dois grandes nomes brasileiros que ajudaram a construir a área pela qual o país é amplamente reconhecido hoje, a bioenergética. Um deles é o pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Anibal Vercesi, que estava presente no evento.

Anibal Vercesi, homenageado na Nature Conference. Foto: Larissa Kreili

Ao defender sua tese de doutorado em 1974, Vercesi mostrou que as mitocôndrias (estruturas responsáveis por converter a energia dos alimentos em energia celular) têm um papel importante na regulação de cálcio no interior das células. Explicou, ainda, como o estresse oxidativo mitocondrial pode ser um fator causador de acúmulo de colesterol nos vasos sanguíneos na aterosclerose.

“Sua contribuição científica é enorme, mas, para mim, a maior qualidade de Anibal é como professor”, comentou, na homenagem, a pesquisadora da USP Alicia Kowaltowski, que foi orientada por Vercesi. “Ele é excelente em transmitir seu conhecimento e formou mais de 300 pessoas.”

Outro homenageado foi Leopoldo de Meis, falecido em 2014. Nascido no Egito, o médico construiu carreira como professor e pesquisador da UFRJ e dedicou-se tanto ao estudo da transdução de energia e bomba de cálcio quanto à educação e divulgação científica. No tributo, o professor da UFRJ Antonio Galina, orientado por de Meis, contou que o brasileiro convidou o renomado cientista Paul Boyer para trabalhar em seu laboratório no Rio, que aceitou. Quando Boyer venceu o Prêmio Nobel de Química, chegou a citar de Meis em dois momentos em seu discurso.

À direita, a companheira de Leopoldo de Meis, a imunologista Vivian Rumjanek, ao lado das filhas do cientista homenageado. Foto: Larissa Kreili

“Leopoldo é, provavelmente, o mais proeminente pesquisador em bioquímica que tivemos”, ressaltou Eduardo Chini, que também faz parte da geração de cientistas formados por de Meis. “No seu laboratório, ele não se importava se a pessoa era pós-doc, doutora ou estudante. Acreditava em quem fazia ciência e que o conhecimento pode vir de qualquer lugar.”

“Ficou evidente o impacto da ciência brasileira desenvolvida nessa área, não só historicamente, mas também com trabalhos recentes”, afirma a diretora de Pesquisa Científica do Serrapilheira, Cristina Caldas. “Um exemplo é o fato de o pesquisador Eric Verdin, do The Buck Institute for Research on Aging, ter citado ao longo de toda a sua palestra o trabalho de Juliana Camacho e Eduardo Chini, que são cientistas jovens. Esperamos que a conferência tenha aberto portas para brasileiros se inserirem cada vez mais em redes internacionais de conhecimento.”

A pesquisa internacional em metabolismo

A produção científica brasileira vem chamando a atenção, mas o evento também foi uma oportunidade de conhecer grandes trabalhos conduzidos em laboratórios internacionais. Um dos destaques foi o professor da Harvard Medical School Ronald Kahn, referência na pesquisa em diabetes e obesidade. Em estudo publicado recentemente na revista Cell Metabolism, Kahn mostrou que a frutose é mais prejudicial ao organismo do que a glicose. “Esse açúcar não é queimado de forma eficiente pelo fígado, o que, em longo prazo, pode levar a um acúmulo de gordura no órgão, síndrome metabólica e cirrose”, explica.

O pesquisador Ronald Kahn. Foto: Larissa Kreili

Isso não significa, vale ressaltar, que as frutas sejam danosas à saúde, pois sua quantidade de frutose é baixa. O problema está no xarope de milho rico em frutose, comumente usado para adoçar alimentos industrializados como refrigerantes, cereais e produtos de panificação, por ser mais barato e mais doce que a glicose. O grupo de pesquisa de Kahn passou cerca de quatro anos estudando esse aspecto em particular, mas o trabalho é parte de uma pesquisa fundamental que busca entender, de modo geral, como a dieta é metabolizada pelo organismo.

Para o médico e professor da UFRJ Marcelo Bozza, eventos científicos como a Nature Conference têm um papel essencial de evitar o isolamento dos cientistas. “Hoje, mais do que nunca, precisamos restabelecer ambientes de encontro para falar sobre ciência, ideias, proximidades. Há uma carga muito pesada contra a ciência e uma forma de minimizar isso é encontrando parceiros que possam dar o braço tanto para esse momento de dificuldade quanto para lidar com problemas nas pesquisas em si.”

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