Rankings de cientistas são populares, mas quem avalia a contribuição da ciência?
Por Olavo Amaral
Pesquisadores da Universidade de Stanford e das empresas SciTech e Elsevier publicaram no mês passado um ranking atualizado dos 100 mil cientistas que mais receberam citações em artigos em 2019, bem como nos últimos 22 anos. A classificação foi recebida com festa por universidades, que se apressaram a divulgar quantos de seus professores fazem parte da lista: citações são uma régua popular de influência ou “impacto” acadêmico, e tanto instituições como cientistas costumam ser obcecados por este tipo de métrica. Observadores mais atentos também viram sinais positivos para a ciência brasileira — afinal, o país passou de 600 cientistas na lista dos últimos 22 anos para 853 na de 2019.
A contabilização de citações, porém, carrega consigo uma série de controvérsias. Por um lado, é uma medida melhor de relevância acadêmica do que o número de artigos ou a notoriedade da revista em que são publicados — índices que infelizmente ainda compõem o grosso da avaliação de pesquisadores no Brasil. Mas também tem limitações importantes, pois varia de acordo com a área de pesquisa (cientistas de áreas populares são mais citados) e as parcerias (colaborações com colegas de prestígio são mais citadas), além de se prestar a manipulações (como autocitações e conchavos de citações recíprocas).
Mesmo essas críticas, no entanto, não dão conta do problema principal. Citações podem ser uma forma razoável de medir impacto acadêmico, mas mesmo quando usadas de forma crítica elas não medem mais do que isso. Assim, classificar cientistas por citações mostra quem tem mais prestígio interno em determinada área, mas diz pouco sobre a qualidade e importância de suas contribuições para a sociedade.
Dessa forma, embora se possa comemorar o crescimento do número de brasileiros na lista, tal fato revela pouco sobre a real importância da ciência nacional. O número dá uma ideia de nossa posição relativa na corrida acadêmica — na qual ainda estamos no pelotão intermediário, bem atrás das potências científicas do mundo desenvolvido. Mas a cifra não ajuda muito a entender para onde a corrida está nos levando.
É sabido que a ciência acadêmica possui inúmeros problemas estruturais, muitos dos quais fomentados pela hipercompetitividade. Levantamentos em áreas distintas mostram que grande parte dos achados publicados em artigos científicos não são reprodutíveis por outros pesquisadores — e nem por isso deixam de ser citados. Com isso, contar as citações de um pesquisador sem confirmar a confiabilidade do que ele publica pode ser um tiro no pé — se um dado não é confiável, impacto passa a ser um câncer, e não uma virtude.
Afora isso, citações em artigos medem a influência dentro do mundo acadêmico, o que diz pouco sobre a contribuição de uma pesquisa — ou de um campo científico — para a sociedade. A cultura da autorregulação por parte da comunidade acadêmica vem de longe — no modelo promovido pelo americano Vannevar Bush nos anos 1950, o investimento na pesquisa básica movida pelos interesses dos próprios cientistas seria a maneira mais inteligente de colher os frutos da ciência a longo prazo.
Não é difícil imaginar, porém, que a autorregulação possa levar todo um campo científico a se perder atrás de unicórnios. Há revistas científicas dedicadas ao criacionismo ou à homeopatia, com artigos citados por pesquisadores destas áreas, mesmo que tais teorias girem em torno de premissas que ao que tudo indica são fisicamente impossíveis. Não haveria dentro da ciência dita “séria” exemplos de becos acadêmicos igualmente sem saída, porém mais difíceis de identificar?
Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S.Paulo.
Os serviços deste site podem conter links para outros sites ou serviços on-line que são operados e mantidos por terceiros e que não estão sob controle ou são mantidos pelo Instituto Serrapilheira.
Os artigos deste site podem incluir conteúdo incorporado de outros sites.
O site armazena as informações pessoais que os usuários registram em nosso site as quais só podem ser acessadas e editadas pelos administradores do site.
O usuário pode solicitar que apaguemos todos os dados pessoais que mantemos sobre ele. Isso não inclui nenhum dado que somos obrigados a manter para fins administrativos, legais ou de segurança.
Nenhum dado sobre os visitantes que se inscrevem no site é negociado pelo Instituto Serrapilheira, sob nenhuma circunstância.
O Instituto Serrapilheira pode decidir alterar a sua política de uso de dados a qualquer momento e por sua exclusiva deliberação.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |