Clarice Cudischevitch
Com sessões diversificadas que passavam por ciência aberta, Física Quântica, educação e representatividade, o segundo dia de apresentações do Camp Serrapilheira, nesta sexta-feira, 6, foi abrangente. Representantes de canais de Youtube, podcasts, projetos de ensino e instituições de pesquisa compartilharam iniciativas de divulgação científica para o público no auditório da Casa Firjan, no Rio de Janeiro.
O Camp Serrapilheira é um festival que aborda a importância da qualidade narrativa e de formas experimentais para a divulgação científica. O evento reúne, de 5 a 8 de setembro, diversas atividades abertas ao público, e 36 organizações selecionadas por edital apresentam sessões nos dois primeiros dias. Além da Casa Firjan, parte da programação acontece no Cinema Estação NET Rio. Saiba mais.
Pesquisador na área de Educação, Americo Amorim criou um aplicativo, o Escribo Play, para fortalecer o aprendizado infantil por meio da divulgação de evidências científicas. Um de seus objetivos é reduzir a desigualdade de desempenho em leitura e escrita entre alunos de escolas públicas e privadas. “Observamos que uma criança de 4 anos e meio da rede pública tem a metade da performance em leitura de uma da rede privada”, afirmou. Seu projeto, desenvolvido com 10 mil crianças, reduziu essa desigualdade de 48% para 18%.
Investir na informação científica para crianças também é o foco da revista Ciência Hoje das Crianças, apresentada pelo editor Marco Moriconi. A organização pretende lançar o projeto Cientista na Roda, uma websérie em que cientistas vão interagir com jovens de 8 a 12 anos.
Luize D’Urso apresentou o Matemática para Garotas, que busca aumentar o envolvimento e interesse das meninas pela disciplina a partir de aulas preparatórias para participação em olimpíadas acadêmicas. “Nosso objetivo é que elas não desistam por falta de apoio. Procuramos formar uma rede de meninas para que, mais do que aprender o conteúdo das aulas, elas possam se conhecer e aprender umas com as outras.”
Davi Simões, do canal de YouTube Primata Falante, abordou o desafio da divulgação da Física Quântica a um público não especializado – especialmente em um momento em que áreas não científicas vêm se “apropriando” da disciplina para promover ideias como “Terapia Quântica”. Recentemente, o canal passou de 120 mil inscritos.
Já Fernanda Campagnucci, da Open knowledge Brasil, falou sobre como tornar a ciência brasileira mais colaborativa e aberta. A organização pretende lançar um projeto de divulgação de dados abertos sobre a ciência: quem financia, quem produz, quem publica e o seu impacto. “Já estivemos muito perto de ter todo o conhecimento sobre o genoma humano fechado por conta de disputa de patentes”, exemplificou.
Representatividade na divulgação científica
Metade das organizações selecionadas pela chamada pública do Camp Serrapilheira são do Norte e Nordeste do Brasil, e várias das apresentações abordavam a representatividade na ciência e na divulgação científica. Em pleno sertão cearense, a Universidade Federal do Cariri e as Escolas Xucuru, por exemplo, promovem uma educação conectada aos saberes indígenas por meio da interculturalidade e transdisciplinaridade.
O Rap e Ciência, do Museu da Vida da Fiocruz, procura envolver diretamente os moradores dos complexos de favelas da região em que está localizada a instituição, na zona norte do Rio, na divulgação científica por meio da música. A jornalista Renata Fontanetto, representante do projeto, convidou os artistas para apresentarem raps que versavam sobre temas como dengue e Chikungunya, saúde mental e drogas. “O Rap e Ciência é a tradução da complexidade da ciência para as pessoas das favelas; é uma ferramenta de transformação social”, destacou a artista do projeto Elaiô Vavío.
O Camp Serrapilheira continua neste sábado, 7, com palestras e debates sobre checagem de dados e novas narrativas para a ciência.
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