11/01/2022 05:49

Galileus da pandemia

  • Blog Ciência Fundamental

Os ditos negacionistas podem levar a ciência mais a sério do que nós

Ilustração: Lívia Serri Francoio

Por Olavo Amaral

Poucas vezes a ciência foi tão invocada no debate público como na pandemia de Covid-19. Por toda parte, cientistas e leigos fazem apelos para que ela seja levada em conta nas decisões políticas. Em paralelo, a palavra “negacionista” nunca foi tão usada para denominar ativistas antivacinasdefensores de certos tratamentos e céticos de medidas de distanciamento social.

A narrativa parece consistente: tais grupos, afinal, tomaram posições contrárias às sustentadas por órgãos como a Organização Mundial da Saúde e a maior parte das sociedades médicas. E se “a ciência não tem dois lados”, como foi defendido na CPI da Covid-19, a leitura óbvia é que eles não estão do lado da ciência. O que é uma narrativa confortável, até o dia em que você descobre que o militante antivacinas médio leu muito mais sobre vacinas do que você.

Não acredita? Pegue um sujeito como Walter Chesnut, um marqueteiro digital convertido em vacinólogo amador que alega fazer “sessenta horas de pesquisa por semana”. Seu site de hipóteses sobre a Covid-19 está apinhado de fatos pescados de artigos científicos sobre relações do vírus com dezenas de processos biológicos e proteínas obscuras. Pode ser difícil atestar o equilíbrio mental de alguém que alega ser “um dos maiores gênios médicos de todos os tempos“. Mas, claramente, seu problema não parece ser falta de ciência.

Da mesma forma, defensores públicos do tratamento precoce da Covid-19 no Brasil incluem cientistas como o virologista Paolo Zanotto e médicos como o infectologista Francisco Cardoso, que estão a par da literatura sobre o assunto e citam estudos científicos o tempo todo. É razoável pensar que suas opiniões possam estar enviesadas por suas posições políticas – que também ficam óbvias nas redes. Mas, novamente, a questão não é falta de ciência.

E se você acha que é tudo culpa do viés político, explique a existência de alguém como Filipe Rafaeli, tetracampeão brasileiro de acrobacia aérea e esquerdista com jeitão de Che Guevara, que desde o ano passado luta uma cruzada pessoal em defesa da hidroxicloroquina e outros tratamentos com textos articulados e cheios de referências, e que com certeza leu mais sobre o tema do que a maioria dos meus amigos cientistas.

Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S.Paulo. 

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