Em artigo, o pesquisador da UFRGS Eduardo Zimmer, selecionado pela 3ª chamada pública de apoio à ciência, aponta erros e acertos na elaboração de um projeto de pesquisa e dá dicas para quem quer concorrer à 4ª chamada
Eduardo Zimmer
O Instituto Serrapilheira lançou a sua 4ª chamada pública para apoiar jovens cientistas brasileiros na sexta-feira, 16 de outubro de 2020. Desde então, um fenômeno superinteressante começou a acontecer comigo. Diversos jovens cientistas me contataram para perguntar sobre meu processo criativo e eu, inevitavelmente, me transportei para aqueles dois meses em que me dediquei em tempo integral para escrever meu projeto atualmente financiado pelo instituto. Assim, nesses próximos parágrafos vou contar um pouco sobre as angústias, inquietações e felicidades de todo esse processo, relatando o que considero os erros e os acertos em cada fase criativa.
Na primeira chamada, em 2017, eu enviei um projeto “pé-no-chão” de ciência incremental. O projeto não foi aprovado. Na segunda chamada, em 2018, a roda viva que é a vida, parafraseando Chico Buarque, fez com que eu tivesse somente 72 horas para escrever o projeto. Faltando duas horas para a submissão, na última leitura eu cheguei à conclusão que o projeto estava muito longe de ter a qualidade que eu gostaria. Optei por não submetê-lo. Em 2019, resolvi não cometer os erros dos anos anteriores e tive meu projeto selecionado pelo Serrapilheira. Agora, quero te convidar, leitor curioso ou jovem cientista, para me acompanhar no meu processo criativo em oito passos.
A “fase do drama existencial”
Ou seja, a fase do “eu não tenho boas ideias”. Isso provavelmente ocorre com todo(a)s o(a)s cientistas no início do desenvolvimento da maioria dos projetos inovadores. Aqui eu sugiro o “tempo para pensar”. Reserve algumas semanas para lapidar a pergunta científica e chegar em uma pergunta que pareça fundamental. Converse com seus amigos e colaboradores, explique a sua proposta e veja a reação deles. Quanto tempo eu preciso para encontrar a minha pergunta fundamental? Essa é uma pergunta sem resposta. O importante é chegar lá e, como cientistas, a gente sente quando a pergunta está ficando pronta.
A fase do “medo da literatura”
Depois de encontrar a pergunta fundamental que te motiva, chega o momento de encarar a literatura para ver se a ideia é realmente inovadora. Nessa fase, vale a pena mergulhar na literatura, vasculhar artigos/livros e, novamente, conversar com colaboradores da sua área de pesquisa e áreas correlatas.
A fase da “euforia”
Essa é uma das fases mais prazerosas do processo criativo, onde percebemos que nossa pergunta fundamental ainda não foi respondida e, então, podemos considerá-la inovadora.
A fase “mãos à obra”
Essa é a fase de gerar resultados preliminares, sejam eles oriundos de bancos de dados, resultados antigos reanalisados ou desenvolvendo pequenos estudos pilotos que corroborem a hipótese. É importante que, ao ler o seu projeto, o revisor compreenda que você consegue desenvolver os experimentos propostos.
A fase de “ser escritor, administrador e poeta”
Esse é o momento onde deve-se escrever o projeto (introdução, objetivos, entre outros), avaliar os orçamentos (identificar o financiamento necessário para o desenvolvimento do projeto) e, por último, ser poeta/romancista (tornar o projeto uma leitura agradável e desafiadora). Lembre-se da “regra do funil”: comece com informações para o público leigo e vá progressivamente invadindo áreas mais especificas. Depois, é só se perguntar: quais avanços a sua pergunta fundamental trará? Aqui você precisa defender a sua pergunta de maneira sucinta. Se você conseguir, tem grandes chances de o revisor acreditar nela e também acreditar que você é a pessoa certa para respondê-la.
A fase de “dividir”
Esse é um momento-chave para ver se o projeto está indo em uma direção correta. A única maneira de ter esse feedback é enviar o projeto para outros cientistas/colaboradores/pesquisadores e receber comentários para melhorá-lo. Não parece mais racional receber as críticas dos seus amigos(a)s cientistas antes de enviar para avaliação dos revisores?
A fase de “absorver as críticas e melhorar”
Aqui começa o processo de revisar, alterar, corrigir e assim por diante. Essa é a fase de tornar o seu texto agradável, graficamente palatável e no formato do edital. É aquele momento que a gente chega à conclusão de que seus colaboradores são espetaculares e contribuíram muito. Ninguém consegue fazer ciência de alto nível sozinho. Assim, invista e encontre colaboradores que tragam ganhos sinergísticos para você e o seu grupo de pesquisa.
A fase da “doce espera”
Momento de esperar a ligação telefônica do Instituto Serrapilheira.
Não deu na 4ª chamada? Identifique seus erros, como eu fiz na primeira e na segunda chamada, e prepare-se para a próxima. No mais, logo nos vemos nos encontros do Instituto Serrapilheira.
O edital da 4ª chamada pública de apoio à ciência está disponível aqui.
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