Clarice Cudischevitch
O Instituto Serrapilheira vai financiar com R$ 1 milhão o primeiro estudo brasileiro que investigará o número de infectados pelo novo coronavírus. O levantamento é uma iniciativa do governo do estado do Rio Grande do Sul e será conduzido por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com a participação de outras universidades do estado, a partir dos próximos dias.
O estudo vai analisar a evolução de prevalência de infecção de Covid-19 especificamente na população gaúcha. Os pesquisadores, no entanto, já planejam reproduzir o levantamento no país inteiro, por solicitação do Ministério da Saúde.
Eles explicam que, em epidemiologia, identificar a magnitude de um problema de saúde na população inteira, e não em subgrupos específicos de pessoas com suspeita da doença, é o primeiro passo para o desenvolvimento de estratégias efetivas de saúde pública baseadas em evidências. Os dados obtidos no estudo serão essenciais para se planejar medidas mais precisas de combate à pandemia.
A pesquisa vai estimar o percentual de gaúchos infectados com o SARS-CoV-2; determinar o percentual de infecções assintomáticas ou subclínicas; avaliar os sintomas mais comumente relatados pelos infectados; analisar a evolução quinzenal da prevalência de infectados no RS num período de 45 dias; fornecer estimativas do percentual de infectados, permitindo cálculos precisos da letalidade da doença; e estimar a sensibilidade e a especificidade do teste rápido. Serão testadas e entrevistadas, ao todo, 18 mil pessoas no estado.
“Conhecer o percentual da população que já foi infectada, a velocidade com a qual a infecção se propaga e o percentual de infectados que são assintomáticos ou têm sintomas leves é muito importante para o planejamento das ações de controle da pandemia”, destaca o epidemiologista Bernardo Lessa Horta, um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto.
Prever esses números é especialmente relevante no caso da Covid-19, pois estima-se que mais de 60% das pessoas infectadas apresentem sintomas leves ou até nenhum sintoma, mas podem transmitir a doença. Atualmente, foram notificados mais de 500 mil casos em todo o mundo, mas, como pessoas com sintomas mais graves apresentam uma maior probabilidade de realizar o teste, esse número não reflete a real prevalência de Covid-19 na população.
“Para combater a epidemia, é preciso entender urgentemente a epidemiologia da doença”, afirma o diretor-presidente do Serrapilheira, Hugo Aguilaniu. “Este é apenas um primeiro passo, mas é fundamental que seja feito o mais rapidamente possível, pois sem dados sólidos, nenhuma política de saída de crise é possível. Por isso decidimos apoiar este projeto.” Além do Serrapilheira, a Unimed Porto Alegre e o Instituto Cultural Floresta também financiam o estudo.
Para que possam buscar respostas de forma ágil, os pesquisadores terão flexibilidade para aplicar os recursos oferecidos pelo Serrapilheira. Eles também buscam outros parceiros que possam contribuir para o financiamento do projeto.
Saiba mais sobre a metodologia do estudo.