17/01/2022 01:01

A queda do paredão em Capitólio era uma questão de tempo

  • Blog Ciência Fundamental

Desabamento pode parecer aleatório, mas para geocientistas não é

Ilustração Lívia Serri Francoio

Por Pedro Val

No último dia 9 de janeiro, as imagens do desabamento de um bloco enorme de rocha no lago de Furnas, em Capitólio, que tirou vidas e feriu gravemente várias pessoas, chocaram o Brasil e o mundo.

Grandes paredões rochosos que parecem não sofrer alterações ao longo de décadas nos dão a falsa impressão de eternidade e imutabilidade do mundo natural. Nesta ótica, o que ocorreu em Minas Gerais pode parecer um evento raro, catastrófico e, portanto, inexplicável. Se é inexplicável por raciocínio científico e lógico, é, portanto, imprevisível — um evento cisne negro, como diriam matemáticos. Não é o caso.

O meio físico evolui em escalas de tempo muito mais longas que a nossa existência. Em termos gerais, paisagens e todos os seus componentes físicos sempre sofrem alterações, algumas mais rápidas e outras mais lentas, algumas contínuas e outras intervaladas.

Mudanças contínuas acontecem nas elevações das superfícies de paisagens brasileiras em velocidades milimétricas ao longo de centênios e milênios. Para nós, humanos, isso pode ser insignificante, mas milímetros após milímetros ao longo de milhares de anos se tornam metros, e metros se tornam quilômetros.

O paredão de Furnas tinha dezenas de metros e bastaram alguns segundos para ele cair. Seria, então, um evento aleatório e, ainda assim, imprevisível? Também não.

Eventos como esse possuem probabilidades quantificáveis. Como muitos outros processos recorrentes (terremotos, deslizamentos de terra, cheias, tempestades), quanto maior a magnitude do evento, maior o tempo entre cada ocorrência. Assim, a recorrência de tombamentos em paredões como os de Capitólio provavelmente depende do tamanho do bloco rochoso. Nos penhascos, fragmentos microscópicos de rocha podem se desprender diariamente da rocha e levar milênios para causar recuo dos paredões. Por outro lado, blocos de dezenas de metros podem se descolar e cair, porém estes episódios só ocorrem em escalas de tempo mais longas — anos, décadas, talvez centênios ou até milênios.

Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S. Paulo.

 

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