22/01/2020 03:54

“Primata”: documentário traz um olhar etnográfico sobre cientistas

  • Divulgação científica

A pesquisadora Juliana Fausto e o jornalista Bernardo Esteves, em debate no IMS após exibição de “Primata”.

Clarice Cudischevitch

Para produzir o documentário “Primata”, o diretor Frederick Wiseman gravou cerca de 120 horas de atividades de experimentação animal no Centro de Pesquisa Nacional de Primatas de Yerkes, em Atlanta (EUA). O longa de 1974, que retrata a prática dos estudos comportamentais com esses animais, foi tema de debate promovido pelo Serrapilheira e pelo Instituto Moreira Salles nesta terça-feira, 21, no Rio de Janeiro.

“O documentário traz um olhar etnográfico de Wiseman sobre os trabalhos dos cientistas”, afirmou o jornalista Bernardo Esteves, repórter de ciência da revista piauí e doutor em história da ciência. “O filme se chama ‘Primata’, mas estou convicto de que os primatas que interessavam mais a Wiseman eram aqueles vestidos.” Esteves participou do debate com a pesquisadora Juliana Fausto, professora-visitante da UFPR que estuda a relação dos animais além dos humanos com a política.

“É um filme sobre a estrutura da observação”, comentou Fausto, que é doutora em filosofia. “A visão de Wiseman recai sobre os corpos não apenas dos primatas, mas também dos pesquisadores, mostrando, por exemplo, a estrutura social representada dentro do laboratório.”

No longa, os cientistas do centro de pesquisa norte-americano submetem os primatas a diversos experimentos para investigar sua capacidade de aprender, lembrar e aplicar competências linguísticas e manuais; o efeito do álcool e das drogas no comportamento; o controle do comportamento agressivo e sexual, entre outros aspectos.

À época, o filme, que chegou a ser exibido na TV pública dos Estados Unidos, causou polêmica: foi acusado de glorificar a prática de tortura animal e de não conter veracidade – de “retratar mal a ciência”. Também foi visto por alguns como um libelo antiexperimentação animal. Wiseman, no entanto, estava interessado essencialmente nos desdobramentos daqueles estudos nos seres humanos.

O debate aconteceu em meio à comemoração dos 90 anos de Wiseman – cerca de 50 deles dedicados ao cinema. No próximo sábado, 25, haverá uma reexibição de “Primata” no Instituto Moreira Salles do Rio, às 18h. Confira mais informações aqui.

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