No Dia Internacional da Mulher, a oceanógrafa e grantee do Serrapilheira Renata Nagai escreve sobre suas inspirações femininas na ciência
Por Renata Nagai
Nestes dias que antecedem o Dia Internacional da Mulher, olho para o meu próprio passado e em retrospectiva percebo como minhas escolhas pessoais e profissionais guiadas por mulheres me levaram à ciência.
Desde que consigo me lembrar, sempre quis fazer ciência. É certo que essa não é uma verdade absoluta para todas as cientistas, afinal ninguém nasce querendo ser cientista. Cada pessoa percorre um caminho diferente para se tornar cientista, que tem relação direta com suas oportunidades e experiências de vida. No meu caso, especificamente, as oportunidades que meus pais puderam me proporcionar foram determinantes. A minha mãe, a pessoa mais brilhante que conheço, é uma cientista. Quando éramos pequenas, minha irmã mais velha e eu, por vezes, acompanhamos minha mãe ao laboratório. Sempre me lembro daquelas tardes com felicidade. Era um ambiente muito diferente do que estava acostumada, com bancadas cheias de objetos que nunca tinha visto e que não podiam ser tocados. Ainda me lembro de um ambiente animado e repleto de mulheres curiosas e falantes, sempre com seus jalecos brancos. Lembro também de ver os cadernos cheios de anotações e das micropipetas funcionando. Como fiquei maravilhada ao saber que um mililitro podia ser dividido em muitos microlitros.
A vontade de estudar o mar só veio mais tarde, estava no ensino médio e a professora de Biologia ofereceu um curso extracurricular ministrado por um professor da USP. A temática do curso: Biologia Marinha. Nós fomos até São Sebastião, no litoral de São Paulo, coletamos alguns animais no costão rochoso e trouxemos eles de volta para escola. Naqueles dias de curso aprendemos na prática a diferença entre um caranguejo e um siri, e observamos todos maravilhados o nado da Aplysia. Depois dessa experiência, eu sabia que queria ser uma cientista do mar.
Alguns anos depois, enquanto cursava a graduação em oceanografia, uma professora da área de oceanografia geológica anunciou uma vaga de estágio de férias. O estágio me levou para uma iniciação científica, minha primeira oportunidade de desenvolver um projeto dentro da paleoceanografia. Durante a discussão dos dados, sentei ao lado da minha orientadora e, naquele momento, enquanto ela me mostrava como era possível transformar dados em planilhas na história dos últimos 20 mil anos do Oceano; foi quase como se uma chave virasse na minha cabeça (“É isso, é isso que quero fazer para o resto da minha vida. Quero reconstruir e entender o passado do Oceano”).
Não é surpresa que todas essas mulheres sejam cientistas e professoras. Cada uma delas de diferentes formas me inspirou e impulsionou para a ciência, e ainda me inspiram e impulsionam. Claro, que também fui inspirada e impulsionada por pessoas do sexo masculino. Mas neste 8 de março de 2021, quando “Mulheres na liderança: Alcançando um futuro igual em um mundo de COVID-19” é o tema do Dia Internacional da Mulher, é fundamental compartilhar histórias sobre o poder de mulheres que inspiram outras mulheres para a ciência. Hoje, como cientista e professora, desejo poder, assim como elas, inspirar outras mulheres e meninas para a ciência.
*O artigo foi originalmente publicado no site do laboratório de Ranata Nagai, Labpaleo2.
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