26/11/2020 07:54

Cientista, a sua equipe tem diversidade?

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Em webinar do 5º Encontros Serrapilheira, a professora de Sociologia da USP Márcia Lima falou sobre formas de incluir perfis diversos na ciência

Foto: El Tigre Studio

“Não existe objetividade científica no mundo que possa prescindir do olhar da diversidade.” Márcia Lima, professora de Sociologia da USP e pesquisadora-sênior do AFRO-CEBRAP – Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial, foi taxativa em webinar do 5º Encontros Serrapilheira realizado no dia 19 de novembro. Na palestra, ela contextualizou o problema e explicou por que a inclusão de grupos sub-representados é boa para a ciência – e para a sociedade.

Lima afirmou que vivemos uma onda conservadora no Brasil e no mundo que não apenas vem prejudicando a inclusão de raça, gênero e sexualidade nas pautas governamentais, mas também contestando o papel da ciência. Os dois estão interligados: a ausência da diversidade representa uma limitação de pontos de vista e de formas de pensar. “Negar a experiência e a diversidade do outro tem efeito na forma como se percebe o mundo”, disse.

Márcia Lima foi uma das especialistas que participou da concepção do “Guia de boas práticas em diversidade na ciência” do Serrapilheira, que traz orientações de como incentivar a inclusão e formação de pessoas de grupos sub-representados no meio científico. O princípio é o de que olhares diferentes tornam a ciência mais rica, e que esses perfis diversos, que historicamente vem sendo excluídos da atividade científica, precisam ser acolhidos de uma forma verdadeiramente efetiva.

“Uma boa maneira de fazer isso é compor equipes e espaços de trabalho com experiências diversas em termos de raça, classe, etnia”, comentou. “Esses olhares sempre vão trazer reflexões diferentes.” Uma forma de reduzir os efeitos discriminatórios na sociedade são as ações afirmativas. Há diversos modelos, como as cotas ou os bônus. Um exemplo é o “bônus da diversidade” oferecido nas chamadas públicas de apoio à ciência do Serrapilheira, que prevê recursos extras aos pesquisadores selecionados para que invistam em modos de promoção da diversidade na ciência.

Márcia Lima lembrou: “Não existe meritocracia se não há igualdade. A meritocracia só pode existir se as pessoas estão buscando algo nas mesmas condições de competição. Sem isso não há disputa igualitária, e aí é preciso corrigir as condições dessa disputa.”

Ela aproveitou para dar um recado tanto aos pesquisadores apoiados pelo instituto quanto aos cientistas de modo geral. “Grantees, peguem o bônus, invistam nele, deem atenção à diversidade. Mas todos os cientistas também podem criar o seu ‘bônus mental’. Olhe sua sala de aula, veja se há um aluno negro com mais dificuldade de protagonismo e dê voz a ele. Observe se sua equipe tem diversidade. Olhe para onde está seu racismo. Não tenha medo de se perguntar se você está sendo preconceituoso.”

A apresentação completa de Márcia Lima pode ser assistida aqui.

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