25/02/2021 07:28

Cientistas introvertidos, não estamos sós

  • Não categorizado

O meio acadêmico me obrigou a explorar um aspecto extrovertido que não é da minha natureza

Por Fernanda Gervasoni

Foi numa conversa entre amigas, depois que lamentei como eu havia me tornado uma pessoa super antissocial, que uma delas comentou: “Você não é antissocial, é introvertida”. Nem sabia o que era uma pessoa introvertida de verdade, só conhecia bem os extrovertidos, que afinal são mais reconhecíveis. Introversão sempre me soou um pouco mal. Então fui pesquisar sobre o termo e me senti quase que abraçada.

No meio científico, saltam aos olhos pessoas que têm mais facilidade em se expressar, que sabem vender seu peixe, pessoas mais expansivas, didáticas e falantes –os tais extrovertidos. Por outro lado, não é tão difícil identificar os mais quietos, os tímidos que às vezes gaguejam, inseguros, ao tentar demonstrar a importância do próprio trabalho. Só depois de refletir sobre a dicotomia introversão/extroversão eu pude ter um olhar mais complacente sobre os introvertidos.

No início da década de 20, o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung fez uma distinção entre dois tipos de disposição no ser humano, os extrovertidos e os introvertidos –os primeiros basicamente se interessam mais pelo mundo externo, os segundos, pelo mundo interno. E isso em geral define várias características dessas personalidades –o extrovertido é mais falante, gosta de estar com pessoas; os introvertidos preferem o silêncio e apreciam a solidão.

Mas como isso afeta a nós, cientistas? Quando pensamos em cientistas, a primeira imagem que nos ocorre são pessoas enfurnadas em laboratórios, de jalecos e óculos de proteção, segurando uma pipeta e um tubo de ensaio –enfim, pessoas que arriscaríamos dizer que são mais caladas e tímidas. Mas o meio científico está longe de ser um mundo para quietos. Hoje, além de realizar pesquisas, obter e publicar dados em revistas de alto impacto, os cientistas precisam saber dar palestras e apresentar seus dados de maneira muito afirmativa para uma comunidade científica, na maioria das vezes nada amigável e bastante competitiva. Sem mencionar a necessidade premente de divulgar a ciência para um público bombardeado de “informações” desprovidas de evidências e argumentos. Cientistas não podem deixar seus dados confinados ao mundo científico. Esse ambiente midiático parece inóspito aos introvertidos.

Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S.Paulo.

  • Temas
  • extrovertidos
  • Introvertidos
  • Jung
  • Meio acadêmico

Projetos e pesquisadores relacionados