23/04/2020 06:08

Coronavírus e a nova rotina dos podcasts

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De repente, uma pandemia: não há indivíduo, empresa ou veículo de mídia que não tenha passado por mudanças na rotina com a dispersão do coronavírus pelo mundo. No caso dos produtores de podcasts, a adaptação vai além das pautas e vem acompanhada de um desafio técnico: como gravar áudios de qualidade fora dos estúdios? No terceiro webinar do Serrapilheira, os apresentadores dos podcasts Café da Manhã (Folha de S.Paulo/ Spotify), 37 graus (Lab 37/ Folha); A Terra é Redonda e Foro de Teresina (ambos Revista piauí/ Rádio Novelo) conversaram sobre os impactos dessa nova realidade em suas produções. Confira os destaques:

Na foto, a “cabaninha” montada por Bernardo Esteves, apresentador do A Terra é Redonda, para gravar os episódios em casa

Mudanças no jornalismo do dia a dia

O Café da Manhã é um podcast diário que trata dos assuntos mais importantes do dia. Há mais de 20 episódios seguidos, a pauta é, basicamente, a pandemia. “Antes até falávamos de saúde, mas num âmbito voltado mais a saúde pública”, comentou Rodrigo Vizeu, que apresenta o programa ao lado de Magê Flores. “Agora falamos sobre vírus, testes, temos ouvido mais especialistas; é um aprendizado.” A equipe passou a produzir também o Plantão Coronavírus, que em todo fim de tarde traz as principais notícias do dia sobre o assunto em até cinco minutos.

Produzir um podcast com a equipe toda trabalhando remotamente é, claro, um desafio particular. “Gravamos cobrindo a cabeça com toalha, com o carro do ovo passando lá fora”, brinca Magê.

Da zika ao coronavírus em um salto

Após mais de seis meses de produção, Bia Guimarães e Sarah Azoubel, do 37 graus, lançaram “Epidemia”, uma série em parceria com a Folha de S.Paulo que percorre a trajetória do vírus da zika no Brasil. Elas não esperavam que a estreia acontecesse em meio a uma nova epidemia. “A gente costuma fazer pautas sobre as quais ninguém estava pensando no momento, tipo carvoarias cariocas, mas de uma hora para outra vimos nossos episódios dentro do assunto do momento”, destacou Bia.

Apesar de o 37 graus ter uma narrativa e estética desvinculadas de uma cobertura jornalística, a adaptação do conteúdo foi inevitável – e uma dificuldade à parte. “É um assunto que muda muito rápido”, disse Sarah. “Nas primeiras semanas, chegamos a mudar o roteiro duas ou três vezes porque ninguém sabia ainda qual tom seguir, se seria o mesmo da H1N1, por exemplo. Víamos que, de repente, não fazia mais sentido falar daquele jeito.” Neste artigo, elas contam um pouco mais sobre essa adaptação.

Os negacionistas

Lançado em março, o A Terra é redonda traz um olhar da ciência para questões da atualidade. A motivação para o podcast surgiu do fato de que a ciência vem sendo questionada em relação a temas relevantes, como aquecimento global e vacinação. “Há pessoas que desprezam o ponto de vista de especialistas que passam anos estudando aquele assunto por conta de declarações públicas de políticos que contestam aquela fala, muitas vezes buscando atender a determinados interesses”, afirmou Bernardo Esteves, apresentador do podcast. “Depois de 20 anos cobrindo ciência e ignorando os terraplanistas por não achar que mereciam espaço, de repente não é mais possível ignorá-los, porque estão assumindo espaços de poder.”

A discussão em torno da hidroxicloroquina é um exemplo da negação da ciência se manifestando novamente, agora no contexto da pandemia. “Por mais que haja estudos sobre sua aplicação no tratamento da Covid-19, vimos depois que os ensaios clínicos não eram tão razoáveis assim, tanto que nos Estados Unidos ela vem sendo contraindicada.”

A pandemia entra na política

José Roberto de Toledo, apresentador do Foro de Teresina, comentou que o podcast se tornou monotemático há um mês e meio, o que não aconteceu sequer nas eleições presidenciais, mas o lema da produção – “o improviso total” – continua. “Cada um grava seu áudio pelo telefone celular, uma alta tecnologia”, brincou. Os três blocos abordam questões epidemiológicas, questões políticas e questões econômicas (substituídas depois por “previsões” para o futuro).

Além do Foro, a equipe lançou também o podcast Luz no fim da quarentena – “sem piloto, sem produção, sem checagem, com uma fonte única, duas vezes por semana, tudo resumido em 15 minutos”. O “explicador” das questões relacionadas à pandemia é o professor do Instituto de Biologia da USP Fernando Reinach.

Uma nova relação com a ciência

A visibilidade que a ciência ganhou nesse momento deverá ter um impacto permanente mesmo após o fim da pandemia. Para Magê Flores, a experiência é transformadora na carreira. “Estou estabelecendo uma nova relação com a ciência a partir desse ‘atropelamento’. Ela passa a fazer parte do meu jeito de pensar no jornalismo; completa nossa formação. Muitas das descobertas dos ouvintes sobre o processo científico são minhas também.”

“O lado bom é que a ciência passa a ter o protagonismo que merece”, ressaltou Toledo. “Passamos a esclarecer questões que não têm a ver com opiniões, mas com fatos, com método científico. A ciência não vai sair de pauta.”

Você pode assistir à gravação completa do webinar aqui.

Este é o terceiro webinar dentro da temática da pandemia do novo coronavírus organizado pelo Serrapilheira. Se você perdeu os primeiros, pode assistir às gravações em nossa playlist no Youtube.

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