Clarice Cudischevitch
Uma pesquisa recente mostrou que 97% dos cientistas gostariam de divulgar mais seus trabalhos. O levantamento feito pela Bori, agência que será lançada em agosto para conectar pesquisadores e jornalistas, mostra que a divulgação científica ainda é um desafio. O tema foi discutido na terceira edição do Encontros Serrapilheira, que reuniu 36 grantees do instituto no Rio de Janeiro, no final de junho.
Na sessão do evento dedicada a essa pauta, as idealizadoras da Bori – a jornalista Sabine Righetti e a biomédica Ana Paula Morales – informaram que, dos 50 mil jornalistas em atuação no Brasil, apenas 250 escrevem sobre ciência, e poucos são, de fato, especializados. Em outro levantamento, esse feito com comunicadores, elas constataram que 70% deles gostariam de receber os estudos dos cientistas com 15 dias de antecedência e que um dos critérios para publicação é o ineditismo da pesquisa.
O questionário voltado aos cientistas recebeu 1.665 respostas. Cinquenta e quatro por cento afirmaram se sentir confortáveis para falar com jornalistas sobre a sua área de atuação e 23% conversariam sobre qualquer tema científico. A principal dificuldade que encontram é não saber como acessar um repórter. O inverso, contudo, também é comum. “Uma vez tive acesso a um estudo sobre hidrelétricas brasileiras antes do embargo e não consegui falar com nenhum dos 16 cientistas brasileiros envolvidos. Tive que entrevistar um pesquisador do Texas, nos Estados Unidos”, contou Righetti.
A relação entre a comunidade científica e a imprensa sempre foi complexa. Por um lado, os jornalistas têm dificuldade de entrar em contato com os pesquisadores a tempo de cumprir os prazos curtos de publicação das matérias. Por outro, os cientistas alegam que nem sempre as informações divulgadas nas reportagens são suficientemente precisas.
De todo modo, comunicar à sociedade a ciência que é produzida no Brasil é essencial. Um estudo do INCT sobre Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia publicado em junho deste ano mostrou que 93% dos jovens de 15 a 24 anos não se lembram do nome de algum cientista brasileiro e apenas 12% são capazes de citar uma instituição brasileira de pesquisa científica.
Por isso, no Encontros Serrapilheira, as criadoras da Bori propuseram um exercício de jornalismo científico aos grantees. Eles foram desafiados a escrever uma explicação do seu trabalho em até 280 caracteres considerando as seguintes perguntas: Qual o principal resultado da sua pesquisa? Como o trabalho foi feito? Como o estudo impacta a ciência na área? Como impacta a vida das pessoas?
A divulgação científica teve uma relevância especial nesta edição do Encontros Serrapilheira. No dia anterior, os grantees participaram de um workshop sobre “como contar sua história” com as criadoras do podcast 37 graus, Sarah Azoubel e Beatriz Guimarães. No treinamento, eles buscaram formas criativas de desenvolver narrativas. Os pesquisadores escreveram um parágrafo que seria o gancho de suas histórias e, em seguida, apresentaram os relatos em até cinco minutos:
A Agência Bori e o podcast 37 graus fazem parte dos 14 projetos apoiados pelo Camp Serrapilheira. Saiba mais:
Agência Bori quer mostrar à sociedade que o Brasil produz ciência
Com nova temporada, 37 graus é selecionado para programa de podcasts do Google
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