Em entrevista, diretora de Treinamento da PRX fala sobre a evolução dos podcasts e indica seus preferidos
Clarice Cudischevitch
Os podcasts definitivamente caíram no gosto dos brasileiros: seu consumo no país aumentou 67% em 2019, e 25% dos ouvintes escutam essa mídia mais de uma hora por dia. A tendência é um crescimento ainda maior, segundo Kerry Donahue, diretora de Treinamento da PRX, companhia norte-americana especializada em narrativas e jornalismo por áudio.
Jornalista, produtora e instrutora, Donahue tem uma longa trajetória na área. Foi diretora do Programa de Áudio da Escola de Jornalismo da Universidade Columbia (EUA) e produtora executiva da New York Public Radio. Junto à PRX, ela vai conduzir o treinamento dos selecionados na chamada pública do Camp Serrapilheira 2020, voltada para podcasts. As inscrições vão até 10 de julho.
Conversamos com Kerry Donahue para saber mais sobre o panorama dos podcasts no Brasil e no mundo. Confira:
Por que os podcasts cresceram tanto nos últimos anos?
Nos EUA, os podcasts começaram em 2003 como arquivos de áudio simples, em formato mp3, para blogs. Por um longo período, eles foram explorados principalmente pelas organizações de mídia, e as rádios tinham vantagem porque já produziam áudio. Mas, em 2014, dois acontecimentos mudaram o cenário dos podcasts. O primeiro foi a instalação do aplicativo para podcasts em todos os dispositivos da Apple, como iPhones e iPods, o que eliminou uma barreira e facilitou o acesso. Antes, era necessário fazer download de um episódio no computador e depois transferi-lo para esses dispositivos.
O segundo acontecimento foi o lançamento de Serial nos EUA. Dos mesmos criadores de This American Life, o podcast narra, a cada temporada, a história real de um crime. A estreia relembrou o assassinato de uma jovem de 18 anos em Baltimore, em 1999, e a investigação de seu ex-namorado e colega de classe como principal suspeito. A primeira temporada bateu o recorde mundial de downloads. Serial foi o primeiro podcast a receber o Peabody Award, que reconhece grandes histórias contadas por organizações de mídia, e foi descrito pela imprensa como um fenômeno responsável por popularizar podcasts de true crime.
Como o cenário mudou desde então?
Nos últimos seis anos, vimos um grande crescimento. Mais podcasts foram sendo criados no mundo todo e, ainda que nem todos tenham permanecido ativos, a área passou a receber mais investimentos. Como a tecnologia para fazer podcasts é aberta, vimos essa mídia chegar a outros países, como o Brasil. Além disso, antes a Apple tinha uma certa dominância sobre a área, mas com a evolução dos smartphones e a melhoria do sistema Android, isso mudou. O mundo todo ficou mais adepto da tecnologia on demand, do streaming, por conta da liberdade para se consumir aquela mídia no momento que se quiser.
Eu observo que em países como o Brasil, que têm uma tradição em rádio, acesso a bons celulares e tecnologia de modo geral e muitos jovens, os podcasts acabam tornando-se parte da máquina cultural. Soma-se a isso o fato de eles serem uma mídia gratuita.
Como a qualidade técnica vem acompanhando esse movimento de expansão dos podcasts?
Atualmente, vemos muitos podcasts surgindo como hobby – dois amigos conversando na garagem de casa. Às vezes o cômodo é grande demais, o microfone usado é o do próprio computador, e isso de fato compromete a qualidade. Mas nem sempre as pessoas têm a pretensão de serem profissionais; elas querem explorar a ideia empolgante de pegar um microfone e contar suas próprias histórias, e a qualidade técnica é mesmo secundária.
Podemos usar recursos gratuitos para fazer um podcast. Se investirmos em alguns equipamentos não muito caros, a qualidade já vai ser melhor; se gravarmos em um estúdio, será melhor ainda. Hoje vemos podcasts narrativos que soam como verdadeiros audiodocumentários. São produções muito ricas, bonitas, que envolvem o ouvinte. Eu adoro esse estilo, mas ele é caro. Minha sensação no Brasil é que muitos podcasts se assemelham às rádios comerciais; são basicamente pessoas conversando. Meu palpite é que vamos caminhar cada vez mais para o estilo de audiodocumentário.
Que outras tendências você observa para os próximos anos?
Acho que os podcasts de true crime não vão embora. Alguns aspectos que compõem uma boa história são a tensão, o aprofundamento de personagens, a surpresa, caraterísticas típicas de histórias sobre crimes. Também aposto em mais conteúdos políticos, principalmente quando observamos uma certa tensão na área, como quando um presidente nega a ciência. A ideia é a de que “se a autoridade rejeita esse assunto, vou contar a história eu mesmo”.
Outra tendência que eu respeito muito é a de podcasts produzidos por pessoas historicamente marginalizadas pela mídia tradicional. Vemos pessoas negras, pobres, gays, transgêneros contando histórias a partir de suas próprias identidades. Isso é muito profundo. Eu, como uma pessoa branca dos EUA, aprendi que há pessoas ávidas tanto para contar quanto para ouvir essas histórias. É uma boa forma de aproveitar a conexão intensa e íntima proporcionada pelos podcasts. A voz humana é muito evocativa.
9 podcasts que valem a pena conhecer, por Kerry Donahue:
Produzido por pessoas encarceradas e ex-prisioneiros, aborda a vida nas prisões.
Série de jornalismo investigativo em torno de um suposto crime no Alabama.
Em estilo de entrevista, discute questões “muitas vezes deixadas de fora das conversas educadas”.
Have You Heard George’s Podcast?
George the Poet oferece uma nova visão da vida na cidade ao misturar histórias, música e ficção.
O humorista Jonathan Goldstein ajuda as pessoas a tentar resolver um momento de seu passado que desejam poder mudar.
Chileno, o podcast conta histórias reais, que chama de “Histórias de Liberdade”, de pessoas que desafiam normas e limites em nome do que acreditam.
Colombiano, o podcast mostra como notícias e escândalos do passado têm impacto na atualidade na vida dos envolvidos.
Produzido nos Estados Unidos, mas em espanhol, o podcast narrativo conta histórias da América Latina a partir de uma estética de crônica da imprensa escrita.
Série de não ficção baseada na carreira e no legado da cantora norte-americana Dolly Parton.
Vai se inscrever no Camp Serrapilheira 2020? Confira as dicas de Kerry Donahue para preparar uma boa proposta:
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