31/07/2020 09:03

Fernanda Antunes: “Minhas ideias surgem em momentos de caos”

  • Ciências ambientais

Professora da UFMG, A bióloga equilibra sua pesquisa na relação entre plantas e polinizadores com a criação da filha e a busca por uma mente e corpo saudáveis

Por Pedro Lira

A bióloga Fernanda Antunes estuda as relações entre plantas e polinizadores

De onde vêm as grandes ideias? Para Fernanda Antunes, elas vêm do cotidiano. Foi observando a natureza e se questionando sobre a origem da diversidade da vida que a cientista decidiu investigar as relações entre os seres vivos, em especial as plantas do cerrado, e as abelhas sem ferrão, importantes polinizadores dos biomas brasileiros.

Antunes é grantee da 2º chamada pública de ciência do Serrapilheira. Ela analisa a polinização das plantas pelas abelhas a partir de uma técnica emergente de sequenciamento de DNA, o DNA-metabarcoding. A ação identifica todas as plantas que são visitadas, e potencialmente polinizadas, no cerrado, por meio de “códigos-de-barras genéticos” extraídos do pólen e mel guardados em seus ninhos.

É possível que a ideia tenha se construído desde quando era criança. Bióloga pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em botânica pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus, onde morou por quase seis anos, a mineira credita seu interesse pela ciência à infância vivida entre Belo Horizonte e uma região rural em Lagoa Santa, Minas Gerais. “Acredito que o contato direto com o mundo natural e minha experiência na Amazônia influenciaram diretamente na cientista que sou hoje e nas questões que levanto sobre biogeografia, evolução das plantas e as interações ecológicas”, comenta.

A paixão pela natureza também a levou a outros biomas. Antunes é doutora em ciências naturais pela Universidade Ludwig Maximilians, na Alemanha, e no período de pós-doutorado esteve na Universidade de Gotemburgo, Suécia.

Fernanda Antunes e a filha, no Encontros Serrapilheira

Mas, mesmo após circular em diferentes lugares, voltou à cidade de origem para criar a filha de 4 anos, sua parceira de atividades. Antunes é praticante de Kundalini Yoga, que a ajuda a manter o equilíbrio emocional enquanto trabalha e cuida da menina. “Medito pelo menos três vezes por semana. Para me exercitar tento criar brincadeiras mais ativas com minha filha. Apostamos corrida nas praças, dançamos juntas, pulamos no sofá. Às vezes faço ginástica em casa, mas confesso que não tenho muita disciplina para malhar”, confessa.

A correria para conciliar a maternidade solo, ciência e saúde física e mental é difícil, mas a pesquisadora admite que suas grandes ideias vêm nos momentos de caos. “Acho que é uma fuga deles”, brinca. Ela lembra que certa vez estava dirigindo para casa, na chuva, atrasada para pegar a filha na creche, quando uma colega recém-doutora ligou dizendo que tinham dois dias para submeter um edital para bolsa de pós-doc. “Ela me mandou alguns áudios e as fotos de uns mapas pelo Whatsapp e naquele percurso caótico de trânsito completamente parado conseguimos ter uma ideia e submetemos o projeto a tempo”, conclui.

No Dia Mundial da Abelha, a grantee conversou com o Serrapilheira sobre a importância desse inseto para o ecossistema terrestre. Assista: 

 

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