17/11/2022 05:51

Peixes nadando na farmácia

  • Blog Ciência Fundamental

Como a poluição farmacêutica pode afetar os oceanos e a nossa saúde

Ilustração: Clarice Wenzel

Por Rossana Soletti

Quando foi a última vez que você tomou algum medicamento? Para boa parte dos brasileiros, a resposta será “há poucas horas”. Quando ingerimos um remédio, os princípios ativos são metabolizados em nosso organismo, resultando em produtos modificados ou intactos que serão eliminados principalmente pela urina. Esta, por sua vez, vai parar no esgoto doméstico, cujos métodos de tratamento são pouco efetivos em eliminar os resíduos de produtos farmacêuticos, situação agravada pelos despejos da indústria farmacêutica, o uso de medicamentos veterinários na criação de animais e o descarte inadequado de fármacos. Resultado: centenas desses resíduos têm sido encontrados em pequenas concentrações em rios e oceanos, na água que bebemos e até em ambientes remotos como a Antártica. 

Existe uma série de classes de medicamentos que apresentam potencial efeito deletério na saúde dos organismos aquáticos, como hormônios, antidepressivos, ansiolíticos, anti-inflamatórios e antibióticos. Algumas dessas substâncias podem se degradar rapidamente no meio ambiente, enquanto outras podem persistir por muito tempo, afetando os animais aquáticos. Um dos primeiros trabalhos sobre o efeito desses medicamentos na vida marinha foi feito em 2003 e repercute até hoje: peixes machos tratados com concentrações ambientais de fluoxetina, o princípio ativo do antidepressivo Prozac, ficaram mais antissociais e agressivos, ao passo que as fêmeas produziram menos ovos. 

De lá para cá, centenas de estudos foram feitos, com resultados pouco animadores para diversos fármacos. Um dos medicamentos mais detectados é o anti-inflamatório diclofenaco, associado a uma notável queda na população de abutres na Índia, e conhecido por causar danos no fígado e nos rins de trutas. Outro exemplo é a ivermectina, um antiparasitário muito utilizado na criação de animais, e cuja venda para consumo humano cresceu cerca de 900% durante a pandemia por Covid-19, apesar de sua demonstrada ineficácia contra o coronavírus. A ivermectina pode persistir por muitos meses no sedimento oceânico, e estudos em laboratório sugerem que mesmo concentrações extremamente baixas no ambiente podem diminuir a população de pequenos crustáceos marinhos e de insetos aquáticos. 

Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S.Paulo.

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