14/02/2022 04:33

Ser mãe é padecer no currículo acadêmico?

  • Blog Ciência Fundamental

Como a maternidade afeta a carreira das cientistas no Brasil

Ilustração: Lívia Serri Francoio

Por Rossana Soleti

São apenas sete horas da manhã e, em vez de tomar um café da manhã sossegada, ligo o computador com uma xícara de café ao lado para poder adiantar o trabalho. Depois de pensar alguns minutos e escrever as primeiras duas frases de um texto, uma filha acorda com fome. Paro tudo, vou à cozinha, preparo seu desjejum, conversamos um pouco e volto ao trabalho. Dez minutos depois a segunda filha acorda, e todo o ciclo recomeça. A partir daí, as interrupções para atender às demandas intensas de duas crianças pequenas não param. É difícil até mesmo produzir um texto sobre as dificuldades de ser cientista trabalhando em casa enquanto cuida dos filhos.  

Penso que a essa hora meus colegas e minhas colegas sem filhos já fizeram reuniões, escreveram artigos e iniciaram muitas outras atividades, enquanto eu ainda tento concluir o primeiro parágrafo de um texto. “São escolhas”, muitos dirão. Em alguns casos talvez sejam, mas nem sempre. Em nosso país, metade das gestações não são planejadas. Não bastasse, mulheres trabalham cerca de dez horas por semana a mais que os homens em tarefas domésticas e cuidados com filhos e familiares. 

O movimento Parent in Science, do qual eu faço parte, pesquisa e discute os impactos da parentalidade na carreira científica. Segundo dados do grupo, mais da metade das cientistas mulheres no Brasil são as únicas ou principais cuidadoras dos filhos, e antes da pandemia 45% delas afirmavam não conseguir trabalhar em casa. Desde o advento do isolamento social e do trabalho remoto, este cenário se intensificou: apenas 47% das cientistas mulheres com filhos estavam conseguindo submeter os artigos científicos que haviam planejado antes do início da pandemia, contra 76% dos cientistas homens sem filhos. Mesmo considerando somente cientistas com filhos, homens e mulheres, a sobrecarga feminina ficou evidente: 28% das mães de filhos com idade entre um e seis anos estavam conseguindo submeter seus artigos, contra 52% dos cientistas pais de filhos da mesma faixa etária. 

Leia o texto completo no blog Ciência Fundamental, na Folha de S. Paulo. 

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