06/09/2018 05:41

Divulgadores de ciência exploram novas narrativas jornalísticas

  • Camp Serrapilheira
  • Divulgação científica

Iniciativas apresentadas no terceiro dia de Camp Serrapilheira utilizam formatos inovadores de comunicação

Foto: Filipe Costa/ Agência Rastro

Clarice Cudischevitch

Qual é o papel do jornalismo na divulgação científica? O terceiro dia do Camp Serrapilheira mostrou que tanto as mídias tradicionais quanto as novas têm uma função essencial na comunicação à sociedade sobre o que fazem os pesquisadores brasileiros. A apresentação de projetos aconteceu no Observatório do Museu do Amanhã, Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (6).

Diretor de Divulgação Científica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Yuirj Castelfranchi é responsável, desde 2016, pela Formação Transversal em Divulgação Científica da instituição. A ideia é que alunos de diversos cursos, das exatas às humanas, passem por um treinamento na área, aprendendo disciplinas que abordam como cobrir neurociência, genética, mudanças climáticas e outros temas. “Nossas aulas inaugurais ficam lotadas, com centenas de pessoas que não fazem o curso, mas estão doidos para saber o que é divulgação científica.”

Pós-doutor em biologia molecular, Rafael Bento apresentou dois projetos. Um deles foi o NuminaLabs, empresa de geração de conteúdo de divulgação científica que tem o objetivo de ser uma ponte com as instituições tradicionais. “As universidades não conseguem acompanhar o ritmo das novas mídias e atingir o público novo por causa da estrutura mastodôntica e da burocracia, então a ideia é sermos um apêndice delas, mais leves e ágeis”, explica.

Ele também substituiu a representante do Science Blogs Brasil Claudia Chow, que está no Quênia. Bento é diretor de conteúdo na rede brasileira de blogs de ciência, que completou 10 anos em 2018. Ele questionou se os blogs de ciência estariam morrendo, pois o número de usuários vem diminuindo. Ainda assim, as postagens não param de crescer, bem como as visualizações. “Isso porque a informação que existe nos blogs é buscável, diferentemente das redes sociais, em que ela se perde. Os blogs são uma fonte basal de informação.”

A filósofa Fernanda Diamant apresentou a revista de resenhas de livros Quatro Cinco Um, da qual é editora. “Trata-se de uma publicação impressa que vai um pouco na contramão dessas novas mídias. É uma espécie de book review brasileira.” Fernanda, que faz mestrado sobre Darwin, mostrou o livro que reúne a icônica obra “A origem das espécies” e outros artigos do naturalista, cuja edição ela coordenou e que foi recém-publicado pela editora Ubu.

José Orenstein, editor executivo do Nexo, explicou que o portal foi criado com o objetivo de ser o primeiro jornal explicativo do Brasil, focado não em furos jornalísticos, mas em análises que contextualizam as notícias. Ele apresentou uma seção nova do site, a “Acadêmico”, que busca divulgar o trabalho de pesquisadores brasileiros de forma acessível. Por meio de um formulário, os cientistas enviam informações sobre a pesquisa, que passam por uma avaliação e edição dos jornalistas – a fila é de quatro a cinco meses. “Fazer ciência é um ato de heroísmo no Brasil. Meu pai é cientista e sei como é a luta. Contrabandeei muitos reagentes na minha mala para ele em viagens.”

Jornalista especializada em ciência, Sabine Righetti é criadora do Data14, que tem o objetivo de ser uma plataforma fornecedora de dados sobre as pesquisas brasileiras. “Como repórter da Folha de S. Paulo, vi um enorme obstáculo para descobrir o que os cientistas do país estavam fazendo; onde estavam os 70 mil artigos publicados por ano.” Ela apresentou um vídeo com depoimentos de jornalistas da área expressando a mesma dificuldade. Sua proposta é fazer algo semelhante ao EurekAlert, mecanismo institucional dos EUA e Europa de divulgação de pesquisas para a imprensa mundial, que inclui releases em vários idiomas, telefones e vídeos de animação explicativos. “No momento atual, temos a pressa de fazer isso logo, antes que não haja mais ciência para comunicar.”