01/09/2020 01:52

“Na era do fogo”: vulcões sob a ótica da ciência e literatura

  • Divulgação científica

Projeto Botão Vermelho, da revista Suplemento Pernambuco em parceria com Serrapilheira, estreia nesta terça-feira, 1, com história de Ana Rusche sobre pesquisa da geóloga Adriana Alves

Pedro Lira

“O mundo era para mim um segredo que eu desejava decifrar.” Quando Mary Shelley escreveu, em 1818, a história de Victor Frankenstein e a criatura à qual deu vida, talvez não soubesse que dava início a um novo gênero literário. A obra de ficção científica, considerada a primeira da história, inspira até os dias de hoje autores que, em suas histórias, refletem os impactos da ciência e tecnologia na sociedade. 

Foi o que fez a escritora e pesquisadora de ficção científica Ana Rusche. A autora se baseou na pesquisa científica da geóloga Adriana Alves sobre eventos vulcânicos de grande porte para contar a história de ficção “Na era do fogo”. O conto é o primeiro da série Botão Vermelho, uma parceria entre a revista Suplemento Pernambuco e o Serrapilheira. Serão publicadas mensalmente seis histórias de diferentes autores baseadas em pesquisas de cientistas brasileiros. A estreia é nesta terça-feira, 1.

A trama de Ana Rusche se passa no supervulcão de Yellowstone e conecta os conhecimentos científicos de Adriana Alves sobre as extinções em massa causadas pela liberação de gases nas erupções vulcânicas com a trajetória de um imigrante centro-americano. “Acredito que juntar essas duas pontas expande a pesquisa da geóloga. Apesar da hipótese dela ser aqui do Brasil, esse conhecimento se aplica a qualquer parte do mundo”, comenta a autora. 

A escritora e pesquisadora Ana Rusche

Em um dado momento da história, a narrativa sugere algo que não seria impossível aos padrões da ciência: construir um filtro no vulcão que poderia salvar a vida na Terra. “A Adriana leu a solução da história e viu que não funcionaria. Trocamos informações sobre filtros, gases e reagentes e como poderíamos criar uma solução a partir de materiais que já existem”, explica Rusche. “A experiência de trabalhar junto ao pesquisador é um ótimo termômetro para sentir como os cientistas, que não estão envolvidos no universo da literatura, reagem. Eu adorei e acredito que a Adriana também. Ela até brincou que a revista Nature podia ler a história e curtir”, comenta a escritora. 

Com uma visão otimista dos avanços tecnológicos, Rusche defende que o momento atual pede esperança. “Eu poderia ter escrito uma distopia, sem soluções e com uma extinção da humanidade, mas acho que agora precisamos de pessoas que busquem encontrar soluções”, conclui. 

Ficção e ciência 

Doutora na Universidade Federal de São Paulo e pesquisadora na área de ficção científica, Rusche explica que o gênero está cada vez mais em voga. “A pandemia influenciou a produção de ficção científica. Já se observam muitas publicações com a Covid-19 no pano de fundo – houve chamadas em periódicos de literatura e em antologias de ficção sobre pandemia. Muita gente também está escrevendo contos e poemas sobre o assunto. É uma forma de elaborar a realidade.” 

Essa ascensão está ligada ao protagonismo da ciência nos últimos anos, em especial nos meses da pandemia. “Nós, autores, somos como uma caixa amplificadora dessa produção de conhecimento, por isso é necessário que essa comunicação entre as duas partes exista. O escritor precisa ter acesso a informação de qualidade. É fundamental para a história”, defende.

Leia o conto “Na era do fogo” aqui.

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