Clarice Cudischevitch
Trinte e oito cientistas, 12 estados, quatro regiões do Brasil. Este foi o roteiro inicial de visitas feitas pela Diretoria de Pesquisa Científica do Serrapilheira aos grantees do instituto, no segundo semestre de 2018. Elas fazem parte do processo de relacionamento com os selecionados pela primeira Chamada Pública de apoio à pesquisa.
Mais do que oferecer recursos a pesquisadores, o Serrapilheira tem como política acompanhar de perto o desenvolvimento de seus projetos a partir do apoio concedido. O objetivo é entender as necessidades desses cientistas, de modo que o instituto possa direcionar suas ações para contribuir com suas carreiras da forma mais eficiente.
Todos os 65 grantees da primeira Chamada Pública receberão as visitas da diretora de Pesquisa Científica, Cristina Caldas, ou do diretor-presidente, Hugo Aguilaniu, que vão se seguir até meados de fevereiro. “Começamos pelos que estão mais distantes de nós e, a partir de janeiro, vamos intensificar as visitas no Rio de Janeiro e São Paulo”, explica Cristina.
Como os recursos oferecidos pelo Serrapilheira são flexíveis, vários grantees os utilizam para melhorar suas infraestruturas. “Ter um espaço digno para trabalhar é essencial para que se possa desenvolver uma pesquisa de qualidade”, comenta Cristina, acrescentando que as visitas também são uma oportunidade de observar as dinâmicas dos grupos, as motivações dos pesquisadores e suas capacidades de liderança.
O físico Claudio Lucas, da Universidade Federal do Ceará (UFC), é um exemplo. Após passar algum tempo buscando um espaço para desenvolver sua pesquisa, ele pôde, enfim, montar um laboratório novo após o grant do Serrapilheira. Já Andreia Macedo, física da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UFTPR), começou a estruturar o seu local de trabalho em um espaço vazio que era a sede antiga de uma empresa, porque o campus principal da universidade estava lotado.
No Rio Grande do Norte, Cristina Caldas conheceu o trabalho de seis grantees: o neurocientista Tarciso Velho, os biólogos Diego Laplagne, Guilherme Longo e Ana Luchiari, a farmacêutica Raquel Giordani e o físico Rafael Chaves. Com Longo, a diretora do Serrapilheira fez um mergulho de snorkel no litoral potiguar para ver de perto o projeto que investiga o impacto das mudanças climáticas nos corais brasileiros.
A pesquisa de Longo também inclui um projeto de divulgação científica, o “De Olho nos Corais”, que convoca turistas a tirar fotos do ambiente marinho e compartilhar nas redes sociais para que os cientistas possam monitorar as condições dos recifes brasileiros. A iniciativa ficou entre as 14 selecionadas pelo Camp Serrapilheira e receberá um apoio de até R$ 100 mil, por um ano.
Outro físico que já recebeu a visita de Cristina Caldas foi Thiago Guerreiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Ele usa um laboratório do Centro de Estudos de Telecomunicações, no Departamento de Engenharia Elétrica da universidade, para desenvolver o projeto SAMBA – Scalar-Axion-Like Microsphere Brane Apparatus.
Guerreiro parte de observações astronômicas para, em escala microscópica, entender mais sobre a matéria escura – partículas ainda desconhecidas que não emitem luz, mas que sabe-se que existem porque interagem com forças gravitacionais. “Se existem partículas desconhecidas, então podem existir forças desconhecidas. Queremos descobrir quais são”, afirma o grantee, que, para desenvolver o projeto, atua na fronteira da Mecânica Quântica.
Cristina ressalta, ainda, que esse contato direto vem permitindo a identificação de centros e iniciativas de excelência estabelecidas fora dos eixos tradicionais da ciência no país. “Todas essas informações têm nos ajudado a refletir sobre os desafios que os jovens pesquisadores brasileiros enfrentam e de que forma nós podemos fazer algo a respeito”, conclui Cristina.
Coordenado pelo biólogo Guilherme Longo, o projeto criou uma rede nacional de monitoramento de corais pelas redes sociais.
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