Clarice Cudischevitch
Em The Most Unknown, nove cientistas de áreas que vão da Física à Neurociência são enviados a lugares impressionantes do planeta e convidados a entrar em campos do conhecimento com os quais nunca haviam trabalhado. Em uma jornada pela curiosidade e pela experimentação científica, eles procuram entender quais são as grandes perguntas da humanidade. O documentário, que contou com orientação do cineasta alemão Werner Herzog, reflete a busca de seu diretor, Ian Cheney, por uma maior experimentação no processo de produção audiovisual em ciência.
Cheney estará no Rio de Janeiro para participar do Camp Serrapilheira e apresentar The Most Unknown pela primeira vez no Brasil. O filme será exibido gratuitamente no Cinema Estação NET Rio no dia 7 de setembro, às 21h, seguido de um debate com o diretor, que também fará uma palestra à tarde na Casa Firjan. Indicado ao Emmy por The City Dark e vencedor do Prêmio Peabody por King Corn, o cineasta acredita em explorar novas linguagens para documentários de ciência que vão além de um conteúdo didático. Saiba mais na entrevista abaixo.
Como abordar a ciência no cinema de uma maneira não óbvia?
Uma das metodologias que eu costumo usar, se é que se pode chamar de metodologia, é, na verdade, muito óbvia: procuro considerar os cientistas como colaboradores no processo de storytelling, e não simplesmente como atores. Os cientistas ficam animados de participar da produção. Pedimos que usem a imaginação e, às vezes, esse pode ser um terreno difícil, mas trabalhar com eles ideias, conceitos e experiências para uma audiência pode ser muito interessante. De modo geral, acredito que é preciso achar um equilíbrio nas histórias sobre ciência, de modo que o conteúdo seja introdutório e compreensível e, ao mesmo tempo, reflita a verdade e a complexidade da ciência. Acho que existe uma tendência na área da comunicação científica de assumir que a audiência sabe muito pouco.
Conte um pouco sobre a experiência de trabalhar com cientistas na produção de um filme.
Eu descreveria como divertida. Ao pensar nos cientistas com os quais eu trabalho como colaboradores e, assim espero, amigos, quero que eles aproveitem a produção do filme, e não que seja algo chato para eles. Para isso, é preciso respeitar o tempo deles e desenhar uma produção da qual os cientistas também possam tirar algo. Odeio generalizar sobre cientistas, mas acredito que eles têm em comum a paixão por aprender e o senso de curiosidade, e isso é parte do processo de produção de um filme. Divido o meu trabalho com eles, assim como eles comigo. Acho que o espírito da colaboração é criar uma confiança e amizade que nos permite fazer algo juntos. Além disso, é muito importante fazer o “dever de casa” e não apenas ler as manchetes e press releases, mas também os papers, pesquisar sobre o histórico da pesquisa, para mostrar que nos importamos com seu trabalho e queremos aprender.
Por que você acabou explorando o mundo dos documentários de ciência? Quais são suas expectativas ao produzir um filme com essa temática?
Estou muito interessado na produção de filmes sobre ciência como um meio de fazer as pessoas pensarem no processo científico em si, e não como uma forma de substituir livros didáticos ou conteúdos que você pode ler na internet. Acho que um bom filme de ciência deve emocionar, inspirar um senso de admiração e fazer com que as pessoas queiram saber mais. A comunicação de ciência tem um papel de educação, mas talvez a coisa mais importante em educar jovens seja estimulá-los a fazerem mais perguntas depois de sair da aula – ou, no nosso caso, depois que o filme termina.
Há algum fato curioso que você pode contar sobre The Most Unknown?
Ele foi filmado fora de sequência, ou seja, as primeiras cenas não foram as primeiras a serem gravadas. Isso é comum em documentários, mas esse filme especificamente é uma sequência de encontros, que conecta uma cadeia de cientistas, então acho que seria interessante filmá-lo novamente na sequência que é apresentada. Outra coisa curiosa é que os cientistas que são os personagens acabaram se tornando verdadeiros membros da equipe técnica. Como viajávamos e passávamos muito tempo juntos, surgiu uma curiosidade mútua entre eles e a equipe da produção audiovisual. Somos iguais em várias coisas – desde o fato de estarmos constantemente submetendo propostas a editais e grants até a vontade de entender o desconhecido.
Confira a programação completa do Camp Serrapilheira 2019. As atividades serão abertas ao público e gratuitas.
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