08/09/2019 04:06

No cinema, a ciência como uma forma de ver o mundo

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  • Divulgação científica

Ian Cheney, em palestra no Camp Serrapilheira. Foto: Larissa Kreili

Clarice Cudischevitch

Cientistas podem ser grandes personagens no cinema. É nisso que acredita Ian Cheney, diretor do aclamado The Most Unknown, exibido pela primeira vez no Brasil em sessão gratuita e aberta ao público no Camp Serrapilheira no sábado, 7, no Estação NET Rio. Cheney participou de um debate com a audiência após a exibição do documentário e falou sobre a experiência de colocar pesquisadores não apenas como atores, mas como co-autores de um filme.

Em The Most Unknown, nove cientistas de áreas que vão da Física à Neurociência são enviados a lugares impressionantes do planeta e convidados a entrar em campos do conhecimento com os quais nunca haviam trabalhado. Em uma jornada pela curiosidade e pela experimentação científica, eles procuram entender quais são as grandes perguntas da humanidade.

“Geralmente mostramos os cientistas como meros especialistas em seus campos, mas há algo humanizador em colocá-los como espectadores”, afirma o cineasta de filmes independentes, que já foi indicado ao Emmy por The City Dark e venceu o Prêmio Peabody por King Corn. “Há algo que move os pesquisadores em direção ao desconhecido, e a explicação é bem óbvia: eles são profundamente humanos.”

É justamente de forma humana que Cheney busca retratá-los. Em The Most Unknown, os cientistas apresentados viajam pelo mundo todo para encontrar uns aos outros, formando uma cadeia de conversas. “Eu não dizia para eles aonde estavam indo, assim os cientistas ficavam na mesma perspectiva de quem assiste. Era um pedido grande: ‘venha comigo para algum lugar do planeta encontrar alguém; mas não vou dizer aonde nem quem será”, brincou.

Mais cedo, em uma palestra bem-humorada sobre experimentação em filmes de ciência, o diretor falou sobre como procura fugir da fórmula exaustivamente seguida para documentários científicos: evitar narradores, apresentadores, explicadores, cientistas “estrelas”, animações, roteiros engessados e as grandes descobertas. “Procuro, por outro lado, usar mais improvisação, colaboração, riscos, diversidade, paciência e humor.”

Cheney considera essencial que os cientistas participem ativamente do processo de produção do filme. “Em The Most Unknown, aprendi a tratá-los como verdadeiros co-autores, para que a experiência valha realmente a pena. Aprendi também que ciência é uma forma de ver o mundo.” Saiba mais na entrevista com o diretor.

A ciência em novos lugares

A tarde de sábado também contou com uma palestra de Jen Wong, diretora do Guerilla Science. O coletivo britânico tem como missão conectar o público à ciência das formas mais inesperadas. Não por acaso, a ideia nasceu em um festival de música e arte no Reino Unido, em 2008.

Jen Wong, do Guerilla Science. Foto: Larissa Kreili

“Começamos como um Science Camp, inspirados pela vontade de compartilhar ciência com pessoas que, a princípio, não têm interesse ou vínculo com a área”, contou Wong. “Vimos que elas tinham bastante curiosidade e queriam abrir suas mentes, então pensamos que a melhor forma de divulgar ciência é por meio da surpresa, levando-a a lugares inesperados. Misturamos ciência com arte, música, teatro. Queremos que as pessoas se divirtam com as experiências que criamos.” Confira a entrevista com Jen Wong.

O Camp Serrapilheira é um festival que aborda a importância da qualidade narrativa e de formas experimentais para a divulgação científica, reunindo diversas atividades abertas ao público. A segunda edição acontece de 5 a 8 de setembro, na Casa Firjan e no Estação NET Rio, no Rio de Janeiro. Saiba mais.

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