09/09/2019 03:11

Ciência no jornalismo, YouTube e podcasts

  • Camp Serrapilheira
  • Divulgação científica

Público no debate sobre jornalismo de ciência durante o Camp Serrapilheira. Foto: Larissa Kreili

Clarice Cudischevitch

O Brasil publicou 400 novos resultados científicos por dia durante o ano de 2018. Levar esse conteúdo a novos públicos é um desafio, mas há diversos caminhos possíveis, do jornalismo especializado às mídias digitais. No Camp Serrrapilheira 2019, representantes de diversas iniciativas ligadas à imprensa, a canais de YouTube e a podcasts conversaram sobre o papel desses veículos na divulgação de ciência.

Em debate sobre novas abordagens para o jornalismo de ciência, Sabine Righetti e Ana Paula Morales apresentaram a Bori, que deve ser lançada este ano. A agência vai criar uma ponte entre pesquisadores nacionais e a mídia para facilitar a divulgação da produção científica do país. “Nossa imprensa prioriza a ciência brasileira, mas não a encontra”, comentou Righetti, lembrando o exemplo da plataforma dos EUA EurekAlert!, que disponibiliza à imprensa do mundo todo um material amplo de divulgação dos estudos cadastrados. Saiba mais na matéria.

A conversa contou também com Leticia Arcoverde, do NEXO Jornal, que apresentou o projeto “Cientistas brasileiros que você precisa conhecer”. A série apresenta vídeos de minibiografias de pesquisadores do passado e entrevistas com pesquisadores do presente, e se encaixa na proposta do jornal digital, focado em um conteúdo analítico e explicativo e menos baseado no juro jornalístico.

Já Giulliana Bianconi, da revista Gênero e Número, falou sobre o trabalho de levantamento de informações e apuração de pautas contextualizadas com questões de gênero e raça. O projeto Open-Box da Ciência, por exemplo, vai reunir dados sobre quem são as protagonistas femininas e negras da ciência brasileira. “Acho que a percepção do jornalismo científico já mudou muito, mas ainda há um caminho a ser fomentado entre repórteres e pesquisadores. A imprensa tem que entender que o tempo da ciência também é importante.”

Outro debate reuniu os youtubers Rafael Procópio (Matemática Rio), Julia Jaccoud (A Matemaníaca), Estevão Slow (Canal do Slow) e Ana Carolina da Hora (Computação sem Caô) para conversarem sobre a divulgação de ciência na plataforma de vídeos a partir de suas experiências.

Julia Jaccoud (A Matemaníaca) e Ana Carolina da Hora (Computação sem Caô) no Camp Serrapilheira. Foto: Larissa Kreili

Professor de Matemática, Procópio criou o canal para explicar a disciplina a estudantes. O canal conta atualmente com mais de 1,5 milhão de seguidores. “Uma vez entrei no avião e o Pedro Bial [apresentador de tv] estava lá. Fiquei surpreso quando ele veio me cumprimentar e disse que o filho dele estudava comigo. Acho que isso é democratização do conhecimento.”

Também matemática, Julia Jaccoud decidiu criar o canal como um espaço em que as pessoas pudessem se reunir para conversar sobre a área. “Tem gente que nem dá uma pequena chance para entender o quão incrível ela é”, diz a youtuber, que conta atualmente com quase 80 mil inscritos. Um de seus objetivos é encorajar outras mulheres a se encantarem pela Matemática e perceberem que são capazes de entendê-la.”

Ana da Hora procura fazer o mesmo, mas com a Ciência da Computação. A ideia de criar o Computação sem Caô e tornar essa ciência mais acessível veio a partir da sua vó, que desconfiava do seu curso de graduação. “Ela achava que os robôs queriam acabar com os seres humanos. Respondi que isso era fake news,mas percebi que eu estava usando termos que ela sequer entendia, então pensei: como explicar a Computação de uma forma que a minha vó entendesse?” Lançado em abril, o canal mostra de forma bem-humorada onde essa disciplina está no nosso cotidiano. Saiba mais.

Com quase 150 mil seguidores, o Canal do Slow aborda temas sobre diversas áreas da ciência e conta com o selo do Science Vlogs Brasil, que faz uma curadoria de canais com conteúdos científicos. “Se um professor monta um experimento em uma árvore em frente à escola e consegue explicar ciência aos alunos, já é ótimo. Não existe concorrência na divulgação cientifica, então quanto mais pessoas estiverem fazendo, melhor.”

Os podcasts também marcaram presença no Camp Serrapilheira, em debate mediado por Bernardo Esteves, da revista piauí. Sarah Azoubel e Bia Guimarães, que ministraram um workshop sobre como contar histórias em áudio durante o evento, falaram sobre o processo de produção do 37 graus, podcast narrativo com um pé na ciência. Saiba mais aqui.

Sarah Azoubel e Bia Guimarães, do 37 graus; Paulo Werneck, do 451 MHz; e Ale Potas, do Trip Com Ciência. Foto: Larissa Kreili

Paulo Werneck, do recém-lançado 451 MHz, vinculado à revista literária 451, destacou que a ciência é uma manifestação cultural. “Ciência, educação, arte, jornalismo, cultura estão todos do mesmo lado”, disse. Já Ale Potas falou sobre o Trip Com Ciência, podcast que também foi lançado recentemente pela Revista Trip. Apresentado pelo neurocientista Stevens Rehen, cada um dos seis episódios colocam lado a lado um pesquisador e uma personalidade de outra área para conversarem sobre assuntos diversos. Conheça.

O Camp Serrapilheira é um festival que aborda a importância da qualidade narrativa e de formas experimentais para a divulgação científica, reunindo diversas atividades abertas ao público. A segunda edição aconteceu de 5 a 8 de setembro, na Casa Firjan e no Estação NET Rio, no Rio de Janeiro. Saiba mais.

  • Temas
  • 37 graus
  • 451 mhz
  • agência bori
  • camp serrapilheira
  • ciência
  • divulgação científica
  • gênero e número
  • instituto serrapilheira
  • jornalismo
  • mídias digitais
  • nexo jornal
  • pesquisa
  • podcast
  • revista 451
  • revista trip
  • trip com ciência
  • youtube